Paisagens alimentares e a (re)invenção da gastronomia em Portugal
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cussão direta na crescente
valorização destas realida-
des. Nesse sentido, a gas-
tronomia portuguesa não é
apenas uma herança iden-
titária do passado, mas
uma variável-chave para o
futuro do país e seus ter-
ritórios. Um ponto de vira-
gem com os riscos e poten-
cialidades inerentes.
Vimos que as paisagens alimentares podem retra-
tar a evolução dos sistemas alimentares tradi-
cionais, incluindo as interações sociais e a cul-
tura culinária associadas. Vimos, também, que o
entrelaçamento entre determinados sistemas ali-
mentares e uma nova gastronomia (re)inventada
pode favorecer várias componentes do bem-estar,
incluindo a saúde. Isto é particularmente impor-
tante quando se reconhecem as limitações decor-
rentes da modernização dos sistemas alimentares
verificada nas últimas décadas.
Por essa razão, a valorização da identidade gastro-
nómica portuguesa deve acompanhar-se de uma
acrescida coerência entre os sistemas agrários tra-
dicionais e as paisagens alimentares e sua preser-
vação dinâmica. É por isso importante o (re)conhe-
cimento do património imaterial desses sistemas,
incluindo as suas identidades gastronómicas. Com
isto, será possível definir não só estratégias e políti-
cas para essa preservação dinâmica, mas também
ações coerentes de
marketing
territorial envol-
vendo maior coordenação e alinhamento dos fun-
dos comunitários e nacionais disponíveis. A FAO já
está a contribuir para isso.
Para que esta estratégia se amplie será necessá-
ria a conjugação de esforços e investimentos dos
diversos níveis do poder executivo em Portugal,
desde o Estado Central ao Poder Local, dos agen-
tes privados envolvidos na indústria do turismo e
dos diversos atores que compõem as comunida-
des locais, desde as asso-
ciações de produtores à
população em geral. Aliás,
novas modelos de partici-
pação e governança a nível
local serão importantes
para procurar uma corre-
lação de interesses a nível
local que permita avançar
na (re)conexão de sistemas
agrários, sistemas alimentares e respetivas paisa-
gens, valorizando e explorando, de forma equita-
tiva e sustentável, este importante património ima-
terial de Portugal.
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… será necessária a conjugação de
esforços e investimentos dos diversos
níveis do poder executivo em Portugal,
desde o Estado Central ao Poder Local,
dos agentes privados envolvidos na
indústria do turismo e dos diversos atores
que compõem as comunidades locais,
desde as associações de produtores à
população em geral.