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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 9

SETEMBRO 2017

48

jornais, acredito que o consumidor português está

cada vez mais sensibilizado para produtos de alto

valor gastronómico. A gastronomia de qualidade

é, também, cada vez mais, uma atração turística,

sendo que um turista gasta em média 25% do seu

budget

em comida, chegando por vezes a 35% em

destinos mais caros [5]. Segundo a

World Food Tra-

vel Association

, nos dias que correm, 93% dos turis-

tas de todo o mundo viajam com o propósito de

experienciar a gastronomia dos seus locais de des-

tino.

Toda esta diversidade de castas não tem um inte-

resse somente organoléptico e gastronómico. A

Dra. Maria Carlota Vaz Patto, investigadora no

ITQB (Instituto de Tecnolo-

gia Química e Biológica da

Universidade Nova de Lis-

boa), salienta que a diversi-

dade genética é importan-

tíssima para responder aos

estímulos que a natureza nos vai colocando. Sejam

pragas, doenças ou alterações climáticas, o raciocí-

nio é óbvio: a diversidade é essencial para aumen-

tar a probabilidade de resiliência a todo o tipo de

estímulos prejudiciais à prosperidade de determi-

nada espécie. Com a propagação dos híbridos, têm

vindo a perder-se muitas cultivares e populações

de inúmeras espécies e, assim, diversidade gené-

tica. Apesar de muito produtiva, a utilização deste

tipo de sementes representa um risco considerá-

vel para o agricultor que

caso se veja diante de um

nova praga ou doença, por

exemplo, ora gasta fortunas

em agroquímicos com efei-

tos nefastos para o meio-

-ambiente, ora se arrisca

a perder toda a sua pro-

dução. Assim, venho nova-

mente defender que as variedades tradicionais e a

policultura são o caminho a seguir numa ótica de

agricultura agroecológica, cujo valor para o consu-

midor tem vindo a aumentar.

O processo de panificação diferenciado

na padaria Gleba

Os cereais e a sua transformação em farinha ver-

dadeiramente portuguesa

Na padaria Gleba, compram-se cereais diretamente

a agricultores portugueses, privilegiando varieda-

des regionais produzidas de forma sustentável. Faz-

-se a moagem destes cereais em moinho de pedra,

o que resulta numa farinha rica e integral. Este pro-

cesso tradicional de moagem não aquece a farinha,

o que faz com que esta tenha as suas proprieda-

des nutricionais absolutamente conservadas, bem

como o aroma. Este tipo de moagem converte 90%

do grão em farinha, face aos 78% que se extraem

numa farinha industrial do

tipo 65. Sendo assim, a fari-

nha da Gleba retém a tota-

lidade do gérmen do grão

e uma alta percentagem

de farelo, ambas partes

extremamente ricas nutricionalmente, em sabor e

aroma. Esta farinha, de forma a estar no expoente

máximo da sua qualidade, tem que ser consumida

fresca, na minha opinião, no período máximo de

uma semana. Industrialmente, no caso da fari-

nha de trigo até se privilegiam farinhas velhas que,

estando expostas durante mais tempo ao ar, são

oxidadas, o que resulta em massas com melhores

propriedades reológicas. Tal massa só poderá dar

origem a pão que, embora macio e alveolado, se

distancia por completo da

sua origem, que é o grão.

Nesse caso sim, com fari-

nha velha, para não dizer

morta, branca de tão refi-

nada, não fará grande dife-

rença a variedade do trigo

ou o

terroir

em que foi culti-

vada. Torna-se então muito

fácil definir esta farinha a partir de meia dúzia de

parâmetros

físico-químicos,

estabelecendo-se

assim, muito certeiramente, a sua “qualidade” e

consequente valor.

… a diversidade é essencial para

aumentar a probabilidade de resiliência

a todo o tipo de estímulos prejudiciais à

prosperidade de determinada espécie.

Na padaria Gleba, compram-se cereais

diretamente a agricultores portugueses,

privilegiando variedades regionais

produzidas de forma sustentável. Faz-se

a moagem destes cereais em moinho de

pedra, o que resulta numa farinha rica e

integral.