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Vamos comer o que nos rodeia – e isso é só o
início da mudança
ALEXANDRA PRADO COELHO
jornalista do PÚBLICO
Quando comecei a escrever sobre gastronomia, em
2011, tive a sorte de receber um convite da
Food
Organization of Denmark/The Food Project
para ir
a Copenhaga. Começava na altura a falar-se da
”revolução” que estava a acontecer na gastrono-
mia nórdica e tive a oportunidade de observar dire-
tamente o que se vivia no (e em torno do) Noma,
que depois veio a ser considerado, durante alguns
anos, o melhor restaurante do mundo na classifica-
ção feita pela revista britânica
Restaurant
.
Fiz parte de um grupo de
jornalistas convidados por
aquela organização encar-
regue de mostrar o que
se passava na gastrono-
mia dinamarquesa, e do
programa da viagem fazia
parte não apenas um jantar
– inesquecível – no Noma mas uma série de outras
atividades que nos ajudavam a perceber como é
que era possível o mundo ter voltado a sua aten-
ção para a gastronomia de um país que até então
não tivera qualquer tradição gastronómica consi-
derada relevante.
A viagem revelou-se uma lição em vários sentidos. O
primeiro foi, sem dúvida, a forma como os dinamar-
queses estavam a trabalhar em articulação uns com
os outros. O texto que escrevi no PÚBLICO quando
regressei a Portugal refletia exatamente isso. Tinha
como título ”Os homens por trás do melhor res-
taurante do mundo” e falava, obviamente, do
chef
,
René Redzepi, mas também de Lars Williams, um
investigador que trabalhava num barco-laboratório
em frente ao Noma, fazendo todo o tipo de expe-
riências loucas à procura de novos sabores. E, por
último, falava de Soren Wiuff, um agricultor que
fazia espargos e outros produtos usados no Noma
e que fomos visitar na sua
propriedade.
Foi muito interessante per-
ceber como a estratégia
de comunicação que veio
a permitir afirmar a Dina-
marca como um destino
gastronómico passava por dar a mesma importân-
cia ao
chef
do restaurante e ao agricultor. Isso pare-
ceu-me na altura determinante. Todo o discurso de
René Redzepi, que hoje se vulgarizou entre todos
os grandes
chefs
do mundo, mas que na altura não
era assim tão habitual, passava pela valorização
dos produtos e dos agricultores que os trabalha-
vam. Sem eles, sublinhava Redzepi, o seu restau-
rante não seria nada.
Foi muito interessante perceber como
a estratégia de comunicação que veio
a permitir afirmar a Dinamarca como
um destino gastronómico passava por
dar a mesma importância ao chef do
restaurante e ao agricultor.