Table of Contents Table of Contents
Previous Page  25 / 112 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 25 / 112 Next Page
Page Background

23

Vamos comer o que nos rodeia – e isso é só o

início da mudança

ALEXANDRA PRADO COELHO

jornalista do PÚBLICO

Quando comecei a escrever sobre gastronomia, em

2011, tive a sorte de receber um convite da

Food

Organization of Denmark/The Food Project

para ir

a Copenhaga. Começava na altura a falar-se da

”revolução” que estava a acontecer na gastrono-

mia nórdica e tive a oportunidade de observar dire-

tamente o que se vivia no (e em torno do) Noma,

que depois veio a ser considerado, durante alguns

anos, o melhor restaurante do mundo na classifica-

ção feita pela revista britânica

Restaurant

.

Fiz parte de um grupo de

jornalistas convidados por

aquela organização encar-

regue de mostrar o que

se passava na gastrono-

mia dinamarquesa, e do

programa da viagem fazia

parte não apenas um jantar

– inesquecível – no Noma mas uma série de outras

atividades que nos ajudavam a perceber como é

que era possível o mundo ter voltado a sua aten-

ção para a gastronomia de um país que até então

não tivera qualquer tradição gastronómica consi-

derada relevante.

A viagem revelou-se uma lição em vários sentidos. O

primeiro foi, sem dúvida, a forma como os dinamar-

queses estavam a trabalhar em articulação uns com

os outros. O texto que escrevi no PÚBLICO quando

regressei a Portugal refletia exatamente isso. Tinha

como título ”Os homens por trás do melhor res-

taurante do mundo” e falava, obviamente, do

chef

,

René Redzepi, mas também de Lars Williams, um

investigador que trabalhava num barco-laboratório

em frente ao Noma, fazendo todo o tipo de expe-

riências loucas à procura de novos sabores. E, por

último, falava de Soren Wiuff, um agricultor que

fazia espargos e outros produtos usados no Noma

e que fomos visitar na sua

propriedade.

Foi muito interessante per-

ceber como a estratégia

de comunicação que veio

a permitir afirmar a Dina-

marca como um destino

gastronómico passava por dar a mesma importân-

cia ao

chef

do restaurante e ao agricultor. Isso pare-

ceu-me na altura determinante. Todo o discurso de

René Redzepi, que hoje se vulgarizou entre todos

os grandes

chefs

do mundo, mas que na altura não

era assim tão habitual, passava pela valorização

dos produtos e dos agricultores que os trabalha-

vam. Sem eles, sublinhava Redzepi, o seu restau-

rante não seria nada.

Foi muito interessante perceber como

a estratégia de comunicação que veio

a permitir afirmar a Dinamarca como

um destino gastronómico passava por

dar a mesma importância ao chef do

restaurante e ao agricultor.