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Gastronomia portuguesa: heranças antigas, dinâmicas modernas

19

siasmo recente observado em torno destas espécies

bravias comestíveis.

Satisfazer a curiosidade e a necessidade dos con-

sumidores que, eventualmente, desejem praticar

um tipo de culinária mediterrânica, essa cozinha

de aromas e verduras, passa por desencadear toda

uma série de ações que vão no sentido de divul-

gar a importância não só dos produtos alimentares,

mas também de pôr em evidência a importância do

património alimentar, no seu conjunto.

O projeto do Ecomuseu de Recursos Flo-

restais em Vendas Novas

Um dos desafios implícitos nas “novas dinâmicas”

dos territórios rurais consiste, precisamente, na

organização de “olhares de dimensão local e regio-

nal, que possam ajudar ao

desenvolvimento de ativi-

dades sustentáveis, dando

visibilidade à nossa memó-

ria coletiva, permanente-

mente reestruturada pela

marcha inexorável da his-

tória” (Joaquim, G. e Moreira, R., 2006: 207). Esses

“olhares” configuram-se em formas de lazer que

articulam

o passado e o presente e materializam a

relação tradição/inovação. Erguem-se como parte

importante na definição de estratégias de desen-

volvimento local, pelo aproveitamento, promoção e

valorização dos recursos endógenos de uma dada

região. A par da temática associada ao valor ambien-

tal das regiões – valores cénicos das paisagens e da

natureza –, a gastronomia apresenta‑se como ele-

mento central na definição da trilogia natureza, gas-

tronomia e lazer. Com efeito, é em torno desta trilo-

gia que parecem estruturar-se algumas alternativas

para a “definição de um futuro multifuncional para

o espaço rural e para a agricultura”

6

.

6

Sobre o desenvolvimento desta temática, consultar Guy

Paillotin,

Tais-toi et mange

, 1999,

bem como M. M.

Vala-

O revisitar de formas de produção agrícola, de pre-

paração culinária e de práticas de consumo dos sis-

temas alimentares tradicionais direciona-nos para a

reconstrução da memória e identidade dos lugares.

Aqui chegados, estamos no plano de articular tra-

dição com inovação alimentar. As plantas silvestres

alimentares e as ervas aromáticas condimentares,

no conjunto dos recursos endógenos, constituíram-

-se como um tema federador de uma experiên-

cia/projeto de desenvolvimento experimental e

demonstração.

O objetivo principal desta experiência foi o de sen-

sibilizar para a importância da constituição de

um Ecomuseu de Recursos Florestais, criando um

núcleo museológico de plantas silvestres alimen-

tares e ervas aromáticas condimentares, para fins

de turismo cultural e gastronómico. Este projeto

decorreu numa herdade da Fundação da Casa de

Bragança, em parceria com

a Escola Agrícola D. Carlos

I, em Vendas Novas, Évora.

As plantas silvestres alimen-

tares e as ervas aromáticas

condimentares são recur-

sos endógenos identitários da gastronomia local,

e constituem um potencial a valorizar, nomeada-

mente com fins pedagógicos e de lazer. De ressaltar,

como referimos atrás, quanto a sua preservação e

valorização podem constituir uma via de desenvolvi-

mento local. Para tal, procurou-se interpretar e orga-

nizar os saberes relacionados com esses recursos e

outros mais especializados, em torno de uma inicia-

tiva que tivesse não só uma função demonstrativa e

pedagógica, mas também uma função económica.

O nosso contributo consistiu numa experiência de

domesticação de algumas espécies de plantas sil-

gão,

“The reinvention of food traditions and new uses of

countryside”

in Montanari, A. (ed.),

Food and Environment.

Geographies of Taste,

Roma, Home of Geography Publica-

tions Series, 2002, p. 40.

As plantas silvestres alimentares e as

ervas aromáticas condimentares são

recursos endógenos identitários da

gastronomia local, e constituem um

potencial a valorizar…