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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 9

SETEMBRO 2017

28

de idosos, 90% são elabo-

radas com produtos bioló-

gicos”, aponta. “Houve uma

reorientação política muito

clara aqui: o Governo pediu

mais produtos biológicos, e

os pequenos agricultores que produzem em modo

biológico começaram a ter mais hipóteses de ven-

der às instituições. Isto levou a uma mudança mais

estrutural na produção alimentar.”

Separar produtores e restaurantes é um grande erro

estratégico, diz ainda Pelle Anderson. Tem de haver

uma união entre a cena gastronómica, a indústria

de vinhos e o turismo: “Este grupo a trabalhar em

conjunto será muito mais forte. Às vezes, o Governo

consegue fazer isso, pondo apenas algum dinheiro

em cima da mesa e dizendo: façam qualquer coisa

juntos. É preciso ter alguém que os una, alguém que

perceba de culinária, especialistas, porque em mui-

tos países se comete o erro

de colocar nas mãos das

agências de turismo, que

podem não saber absolu-

tamente nada de gastrono-

mia.”

Nos últimos anos, temos

visto os

chefs

de cozinha

cada vez mais sensíveis à

importância da qualidade

do produto. Quem acom-

panha a área da gastrono-

mia – com toda a visibili-

dade que, felizmente, ela

conquistou – não pode dei-

xar de se interessar pela da

produção. É na terra que

tudo começa. O que chega

ao nosso prato tem uma

história que é interessante conhecermos – e que

cada vez mais os

chefs

querem contar, reconhe-

cendo, justamente, o trabalho essencial de produ-

tores, agricultores, pescadores, criadores de gado.

O que é que falta, então?

Falta, emprimeiro lugar, dis-

cutirmos mais abertamente

estas questões e identificar-

mos os problemas. Muitos

chefs

queixam-se que ainda existe muita falta de

consistência na qualidade do produto português.

Isto deve-se sobretudo à escala. Pequenos pro-

dutores não conseguem muitas vezes assegurar a

mesma consistência que os grandes.

É preciso criar canais que lhes permitam escoar

os produtos mais facilmente – ouço muitas vezes

alguns deles queixarem-se que uma deslocação a

Lisboa para trazer dois ou três produtos a um res-

taurante “não paga o gasóleo”. Incentivar a cria-

ção de melhores redes de distribuição (mas sem

multiplicar o número de intermediários que enca-

recem o produto final, prejudicando produtores e

consumidores) e de merca-

dos de proximidade, apoiar

as lojas que estão dispos-

tas a pagar um preço justo

a quem produz, limitar as

autorizações de abertura de

grandes superfícies que afe-

tam o comércio local.

Além disso, é vital inte-

grar produtos locais, sabe-

res, tradições e cultura gas-

tronómica nas matérias

de estudo das escolas de

Hotelaria e Turismo, nos

cursos de gastronomia – e

fazê-lo a um nível nacional,

mas também trabalhando

e explorando as diferen-

ças regionais. É importante

apoiar e incentivar os estudos sobre a história da

gastronomia e as investigações sobre tradições gas-

tronómicas. É essencial transmitir conhecimentos

sobre estes temas – e também sobre uma alimen-

Separar produtores e restaurantes é um

grande erro estratégico…

Este grupo a trabalhar em conjunto será

muito mais forte.

É na terra que tudo começa.

… é vital integrar produtos locais,

saberes, tradições e cultura gastronómica

nas matérias de estudo das escolas

… apoiar e incentivar os estudos

sobre a história da gastronomia e

as investigações sobre tradições

gastronómicas.

… transmitir conhecimentos sobre estes

temas … valorizar os restaurantes …

que fazem um trabalho sério em torno

dos produtos portugueses.

… reforçar a ligação entre o que se come

nas escolas e os produtos/produtores

locais…

É preciso coordenação, união de esforços,

reconhecimento da importância deste

assunto, vontade de fazer.