cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR
N.º 8
JUNHO 2017
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tes. Essa abordagem de resolução fina gerará uma
compreensão mais mecanicista da agrobiodiversi-
dade que pode ser usada para projetar estratégias
de gestão necessárias para uma abordagem susten-
tável do agroecosistema. Neste contexto, o GBIF é
uma base de dados que dá acesso a dados primá-
rios de biodiversidade, incluindo, entre outras infor-
mações, o nome da espécie, o local e data de ocor-
rência. Esta informação é essencial para a avaliação
da agrobiodiversidade de uma região.
A gestão dos agroecossistemas deve ser feita a
diferentes escalas, não só para potenciar o con-
tributo que os processos ecológicos e as espé-
cies podem ter na produ-
ção agrícola, reduzindo o
recurso a
inputs
externos,
como agroquímicos, e res-
petivos custos, mas tam-
bém para potenciar os
benefícios que os agroecos-
sistemas podem gerar para
a sociedade (e.g., recarga
de aquíferos, regulação da
qualidade da água, seques-
tro de carbono, áreas de
recreio, etc.). Estes bene-
fícios podem ser passí-
veis de remuneração, via
programas de pagamento
de serviços dos ecossiste-
mas, traduzindo-se assim
numa fonte adicional de
rendimento para os agricultores. Uma das limita-
ções ao desenvolvimento destes programas passa
pela capacidade de quantificar os serviços gerados.
Alguns serviços de ecossistema (por exemplo, provi-
são de alimentos) podem ser quantificados em uni-
dades que sejam facilmente compreensíveis pelos
formuladores de políticas e pelo público em geral,
por exemplo, em valor monetário. Outros servi-
ços, por exemplo, aqueles que suportam e regulam
os níveis de produção de colheitas, são mais difí-
ceis de quantificar, como por exemplo o recarrega-
mento dos aquíferos ou a regulação climática. Se
uma definição baseada na contabilidade for apli-
cada de forma muito estrita, existe o risco de que a
avaliação dos serviços dos ecossistemas possa ser
tendenciosa em direção a serviços que sejam facil-
mente quantificáveis. No entanto, muitas vezes, são
os serviços de regulação aqueles que se podem tor-
nar mais críticos para o bem-estar humano (UK NEA,
2014). Assim, é necessário um maior investimento
no desenvolvimento de metodologias, incluindo
modelação, para quantificar os serviços de ecossis-
tema gerados numa dada área, considerando quer
as características biofísicas e ecológicas do sis-
tema, quer as práticas de gestão. Uma vez que os
serviços dos ecossistemas
são definidos em termos
de benefícios para as pes-
soas, deve-se reconhecer
que os serviços do ecossis-
tema são dependentes do
contexto, ou seja, a mesma
característica de um ecos-
sistema pode ser conside-
rada um serviço do ecos-
sistema por um grupo de
pessoas, mas não avaliada
como tal por outro grupo
(UK NEA, 2014).
Na ligação da ciência à
política, podemos identi-
ficar vários instrumentos
de promoção da agrobio-
diversidade na agricultura. Na arquitetura do pro-
grama PDR2020, a ação “Ambiente, eficiência no
uso dos recursos e clima“ apresenta três medidas
que dependem da gestão sustentável da agrobio-
diversidade, a saber,
Agricultura e recursos natu-
rais
,
Proteção e reabilitação de povoamentos flo-
restais
, e
Manutenção da atividade agrícola em
zonas desfavorecidas
. A condicionalidade, o
gree-
ning
e as medidas agroambientais e climáticas têm
sido instrumentos diferenciadores na produção de
bens públicos ambientais, proteção dos recursos
A gestão dos agroecossistemas deve ser
feita a diferentes escalas, não só para
potenciar o contributo que os processos
ecológicos e as espécies podem ter na
produção agrícola, reduzindo o recurso
a
inputs
externos, como agroquímicos,
e respetivos custos, mas também
para potenciar os benefícios que os
agroecossistemas podem gerar para a
sociedade (e.g., recarga de aquíferos,
regulação da qualidade da água,
sequestro de carbono, áreas de recreio,
etc.). Estes benefícios podem ser passíveis
de remuneração, via programas de
pagamento de serviços dos ecossistemas,
traduzindo-se assim numa fonte adicional
de rendimento para os agricultores.