cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR
N.º 8
JUNHO 2017
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e florestas. Estes balanços de perdas e ganhos
podem, no entanto, ser muito variáveis conforme a
região geográfica (e.g. Sirami
et al
. 2008; Queiroz
et
al
., 2014; Regos
et al
. 2014).
Também ao nível da diver-
sidade de plantas, existem
espécies cuja persistência
é dependente da manuten-
ção de ecossistemas agríco-
las. Um exemplo ilustrativo
é a diversidade de plantas
em paisagens agrícolas do
Parque Nacional da Peneda-Gerês, relativamente
à qual Lomba
et al
. (2012) mostrou que 20% das
espécies encontradas eram exclusivas de lamei-
ros. À escala da União Europeia (UE), Halada
et al
.
(2011) mostraram que nada
menos do que 63 tipos de
habitats com valor de con-
servação listados na Dire-
tiva Habitats estão total ou
parcialmente dependentes
da manutenção de ativida-
des agrícolas.
Dada esta diversidade de impactos (positivos e
negativos) da agricultura sobre a biodiversidade,
existem várias correntes alternativas à forma como
se aborda esta relação (Tscharntke
et al.
2012). Uma
dessas correntes (conhecida como “land sparing”
1
)
preconiza a separação total
das áreas com objetivos de
produção e conservação,
ou seja, a intensificação da
agricultura com objetivos
económicos e de produção
nas áreas mais apropria-
das, esquecendo comple-
tamente as questões de conservação e argumen-
tando que, desta forma, a necessária produção de
alimentos será conseguida numa área geográfica
1
“Poupar a terra”, numa tradução literal, por oposição a
“land sharing”, “partilhar a terra”.
mais reduzida, sobrando mais área para a conser-
vação da biodiversidade. Esta corrente ignora os
valores de biodiversidade associados a áreas agrí-
colas mais extensivas, os
quais dependem da manu-
tenção de atividade agrí-
cola mesmo que em áreas
marginais e com pouca ren-
tabilidade económica. Uma
outra corrente (“land sha-
ring”) advoga precisamente
a
manutenção
destas
áreas, argumentando que para além da biodiver-
sidade, elas preservam outros serviços de ecos-
sistema importantes (valor cénico, produtos tra-
dicionais, qualidade da água, etc.) que devem ser
valorizados num contexto
de
multifuncionalidade
da paisagem. Há ainda
quem defenda a adoção de
estratégias de gestão para
manutenção da biodiversi-
dade, mesmo em contextos
agrícolas mais intensivos,
numa lógica de “intensifi-
cação ecológica” (Bonmarco
et al
. 2013), em que
elementos da biodiversidade podem ser utilizados
como fonte de importantes serviços para a agricul-
tura (controlo de pragas, polinização, fertilidade do
solo) que devem ser potenciados como substitutos
de
inputs
de origem antro-
pogénica. A intensificação
ecológica tem como obje-
tivos manter ou aumentar
a produtividade, mas mini-
mizando os impactos sobre
o ambiente através da inte-
gração de serviços de ecos-
sistema nos sistemas de produção agrícola. Neste
momento, alguns projetos desenvolvidos no CIBIO
(Centro de Investigação em Biodiversidade e Recur-
sos Genéticos, Universidade do Porto) abordam
esta temática e tentam quantificar até que ponto
a biodiversidade pode ser uma importante presta-
Uma dessas correntes (conhecida
como “land sparing”) preconiza a
separação total das áreas com objetivos
de produção e conservação, ou seja,
a intensificação da agricultura com
objetivos económicos e de produção nas
áreas mais apropriadas …
A intensificação ecológica tem como
objetivos manter ou aumentar a
produtividade, mas minimizando os
impactos sobre o ambiente através da
integração de serviços de ecossistema nos
sistemas de produção agrícola.
Uma outra corrente (“land sharing”)
advoga precisamente a manutenção
destas áreas, argumentando que
para além da biodiversidade, elas
preservam outros serviços de ecossistema
importantes …