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A importância da agricultura na preservação
da biodiversidade
FRANCISCO MOREIRA
1,2
E ÂNGELA LOMBA
1
1
CIBIO/InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto
2
CEABN/InBIO – Centro de Ecologia Aplicada “Professor Baeta Neves”, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa
1. Agricultura e biodiversidade: os “bons”
e os “maus”
De forma genérica, o impacto das atividades agríco-
las na biodiversidade depende fundamentalmente
do grau de intensificação das práticas agrícolas uti-
lizadas. Num extremo, uma agricultura muito inten-
siva, com grandes
inputs
de nutrientes e químicos,
elevada carga animal e com a utilização de grandes
parcelas de cultivos, está associada a baixos níveis
de diversidade e à ocorrên-
cia de espécies generalistas
e habitats sem interesse
de conservação. No outro
extremo do gradiente, a
existência de práticas agrí-
colas mais extensivas, com
baixa carga animal e
inputs
reduzidos de nutrientes e
fertilizantes, pode levar à
criação de mosaicos paisagísticos aos quais estão
associados habitats e espécies raros e com valor
de conservação. Curiosamente, existe um para-
doxo neste extremo do gradiente, em que se pode-
riam esperar níveis máximos de biodiversidade na
ausência de atividade agrícola: existem atualmente
espécies e habitats que estão dependentes de um
regime de perturbações apenas recriado num con-
texto da existência de atividade agrícola. Neste
caso, estes elementos da biodiversidade pode-
rão desaparecer caso exista abandono da agricul-
tura (que se poderia assumir como um extremo da
extensificação).
Em resumo, quer a intensificação, quer o abandono
agrícola podem representar um fator de perda de
biodiversidade. Um dos exemplos mais paradigmá-
ticos do impacto negativo da intensificação agrí-
cola é dado pelas tendên-
cias populacionais de aves
associadas a zonas agríco-
las (e.g. Donald
et al
. 2001).
Existem, no entanto, mui-
tos estudos que mostram
impactos negativos signifi-
cativos noutros grupos da
fauna e da flora (e.g. Stoate,
2001). Existem também
estudos que comprovam a perda de biodiversidade
em consequência do abandono da agricultura.
Numa análise global das respostas dos vertebra-
dos mediterrânicos da Europa ao abandono da
agricultura, Moreira & Russo (2007) sugerem que a
perda da diversidade de vertebrados associados a
áreas agrícolas não será compensada pelo poten-
cial incremento de espécies associadas a matos
Em resumo, quer a intensificação, quer
o abandono agrícola podem representar
um fator de perda de biodiversidade.
Um dos exemplos mais paradigmáticos
do impacto negativo da intensificação
agrícola é dado pelas tendências
populacionais de aves associadas a zonas
agrícolas …