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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

32

ria do Tejo, Alto Alentejo, Alentejo Central. A sele-

ção dos outros grupos (reguladores e investiga-

dores) foi feita à escala nacional. Na consulta aos

stakeholders

, foram analisadas as suas representa-

ções de agrobiodiversidade, incluindo as suas com-

ponentes, e a forma como aquelas influenciam e

são influenciadas pela produção vitivinícola.

Análise aos serviços de ecossistema e às suas

relações com a biodiversidade

Durante os

focus-group

s, envolvendo os três grupos

de

stakeholders

(produtores, reguladores e investi-

gadores), procurou-se saber qual a sua definição de

agrobiodiversidade, e quais as componentes desta

que cada grupo associa à vitivinicultura. Foram

analisados os discursos dos participantes durante

a discussão nos

focus-group

s, tendo-se identificado

todos os elementos relativos a serviços dos ecos-

sistemas. Esses elementos foram classificados em

diferentes tipologias de serviço, tendo sido quan-

tificado o número de referências a cada tipologia

(apenas se contabilizou a primeira vez que o ser-

viço era referido numa sequência de discurso ou

interação entre participantes para evitar duplica-

ção de contagem). Para cada um dos três “tipos”

de biodiversidade relacionados com a vinha – espé-

cies cultivadas, espécies auxiliares, elementos da

matriz envolvente à vinha –, foram identificados os

elementos que os participantes consideraram mais

importantes. De seguida, através da análise das

transcrições, procedeu-se a uma categorização des-

ses elementos de acordo com os serviços de ecos-

sistema por eles prestados (tendo sido considera-

dos apenas os três mais relevantes).

Resultados e discussão

A definição de agrobiodiversidade para produto-

res, reguladores e investigadores

A definição de agrobiodiversidade variou entre os

três grupos: a dos produtores distinguiu-se das

demais pela referência que fazem ao território na

interação com a matriz envolvente, tendo o sistema

agrícola como referência (“espécies que partilham

um dado espaço”; “num determinado espaço é a

quantidade diversa de espécies”; “sistema agrícola

e sua envolvente”). Referem, ainda, a existência de

uma interação sistémica entre a variedade de espé-

cies e o seu aproveitamento na produção agrícola.

Neste grupo, há ainda uma referência à utilização

da agrobiodiversidade para otimização das práticas

agrícolas, no sentido da sua valorização económica.

Reconhecem que há hoje uma valorização da agro-

biodiversidade por parte do consumidor, à qual o

produtor tenta dar resposta.

Os reguladores, ao definirem agrobiodiversidade,

também a associam a um ecossistema agrícola e

sua envolvente, ainda que de forma mais abstrata.

Trata-se, por isso, de uma definição mais teórica,

na qual sobressai a variedade de espécies agríco-

las (variedades faunísticas e botânicas) e a sua inte-

ração com o meio. A ideia de diversidade é neste

caso mais inclusiva, admitindo as diversidades de

habitats, de relações ecológicas, relacionadas com

outras práticas agrícolas e outras atividades produti-

vas (silvícolas e pecuárias). Assim, para além de mais

inclusiva, a sua definição inclui uma componente

relacional, integrando a atividade humana e social.

Os investigadores definiram agrobiodiversidade sem

qualquer referência territorial ou social. Referem a

diversidade genética das videiras de castas e den-

tro de cada casta (diversidade intravarietal). Refe-

rem ainda a diversidade de espécies com potencial

para influenciar a produção, produzindo serviços de

ecossistema para a agricultura. Revelam dificuldade

em considerar a matriz envolvente como agrobiodi-

versidade, dada a sua focalização em aspetos muito

específicos da atividade vitivinícola.

Em suma, os produtores enquadram a agrobio-

diversidade na sua atividade agrícola, dentro da

cadeia de valor (desde a produção ao consumo)

e numa envolvente territorial, no seu espaço agrí-

cola. Os reguladores têm uma visão espacial sobre

a agrobiodiversidade mais focada no ecossistema