cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR
N.º 8
JUNHO 2017
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ria do Tejo, Alto Alentejo, Alentejo Central. A sele-
ção dos outros grupos (reguladores e investiga-
dores) foi feita à escala nacional. Na consulta aos
stakeholders
, foram analisadas as suas representa-
ções de agrobiodiversidade, incluindo as suas com-
ponentes, e a forma como aquelas influenciam e
são influenciadas pela produção vitivinícola.
Análise aos serviços de ecossistema e às suas
relações com a biodiversidade
Durante os
focus-group
s, envolvendo os três grupos
de
stakeholders
(produtores, reguladores e investi-
gadores), procurou-se saber qual a sua definição de
agrobiodiversidade, e quais as componentes desta
que cada grupo associa à vitivinicultura. Foram
analisados os discursos dos participantes durante
a discussão nos
focus-group
s, tendo-se identificado
todos os elementos relativos a serviços dos ecos-
sistemas. Esses elementos foram classificados em
diferentes tipologias de serviço, tendo sido quan-
tificado o número de referências a cada tipologia
(apenas se contabilizou a primeira vez que o ser-
viço era referido numa sequência de discurso ou
interação entre participantes para evitar duplica-
ção de contagem). Para cada um dos três “tipos”
de biodiversidade relacionados com a vinha – espé-
cies cultivadas, espécies auxiliares, elementos da
matriz envolvente à vinha –, foram identificados os
elementos que os participantes consideraram mais
importantes. De seguida, através da análise das
transcrições, procedeu-se a uma categorização des-
ses elementos de acordo com os serviços de ecos-
sistema por eles prestados (tendo sido considera-
dos apenas os três mais relevantes).
Resultados e discussão
A definição de agrobiodiversidade para produto-
res, reguladores e investigadores
A definição de agrobiodiversidade variou entre os
três grupos: a dos produtores distinguiu-se das
demais pela referência que fazem ao território na
interação com a matriz envolvente, tendo o sistema
agrícola como referência (“espécies que partilham
um dado espaço”; “num determinado espaço é a
quantidade diversa de espécies”; “sistema agrícola
e sua envolvente”). Referem, ainda, a existência de
uma interação sistémica entre a variedade de espé-
cies e o seu aproveitamento na produção agrícola.
Neste grupo, há ainda uma referência à utilização
da agrobiodiversidade para otimização das práticas
agrícolas, no sentido da sua valorização económica.
Reconhecem que há hoje uma valorização da agro-
biodiversidade por parte do consumidor, à qual o
produtor tenta dar resposta.
Os reguladores, ao definirem agrobiodiversidade,
também a associam a um ecossistema agrícola e
sua envolvente, ainda que de forma mais abstrata.
Trata-se, por isso, de uma definição mais teórica,
na qual sobressai a variedade de espécies agríco-
las (variedades faunísticas e botânicas) e a sua inte-
ração com o meio. A ideia de diversidade é neste
caso mais inclusiva, admitindo as diversidades de
habitats, de relações ecológicas, relacionadas com
outras práticas agrícolas e outras atividades produti-
vas (silvícolas e pecuárias). Assim, para além de mais
inclusiva, a sua definição inclui uma componente
relacional, integrando a atividade humana e social.
Os investigadores definiram agrobiodiversidade sem
qualquer referência territorial ou social. Referem a
diversidade genética das videiras de castas e den-
tro de cada casta (diversidade intravarietal). Refe-
rem ainda a diversidade de espécies com potencial
para influenciar a produção, produzindo serviços de
ecossistema para a agricultura. Revelam dificuldade
em considerar a matriz envolvente como agrobiodi-
versidade, dada a sua focalização em aspetos muito
específicos da atividade vitivinícola.
Em suma, os produtores enquadram a agrobio-
diversidade na sua atividade agrícola, dentro da
cadeia de valor (desde a produção ao consumo)
e numa envolvente territorial, no seu espaço agrí-
cola. Os reguladores têm uma visão espacial sobre
a agrobiodiversidade mais focada no ecossistema