cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR
N.º 8
JUNHO 2017
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cadas como tipo 3 dizem respeito a paisagens agrí-
colas que asseguram o habitat adequado a uma ou
mais espécies raras ou com estatuto de conserva-
ção no contexto europeu ou mundial, mesmo em
casos em que as práticas sejam reconhecidamente
intensivas.
De uma forma geral, as Áreas Agrícolas de Elevado
Valor Natural constituem zonas onde o homem
(agricultor e membros da comunidade rural) e a
natureza evoluíram conjuntamente ao longo dos
tempos. Por este motivo, além da reconhecida con-
tribuição destas paisagens para a manutenção da
agrobiodiversidade, tem sido amplamente reco-
nhecido o papel que podem desempenhar para
que sejam atingidos os objetivos europeus rela-
cionados não só com sustentabilidade ambiental,
mas também com segurança alimentar e bem-estar
humano. Acresce ainda que o carácter multifuncio-
nal destas paisagens temsido associado à prestação
de múltiplos serviços de ecossistema, para além do
suporte à biodiversidade,
nomeadamente no que diz
respeito aos serviços de
produção (alimento, fibra,
lenha), regulação (regula-
ção de clima, erosão) e cul-
turais (capital estético, sim-
bólico). Neste contexto, o
projeto
FARSYD – Farming
systems as tool to support
policies for effective conser-
vation and management of
high nature value farmlands
(Os
sistemas
agrícolas
enquanto instrumento de
suporte a políticas de con-
servação e gestão de paisagens agrícolas de ele-
vado valor natural), atualmente a ser desenvolvido
em parceria entre o CIBIO e o ISA (Instituto Superior
de Agronomia, Universidade de Lisboa) visa contri-
buir para aumentar o conhecimento relativo à rela-
ção entre os sistemas agrícolas e os níveis de bio-
diversidade e de serviços de ecossistema que estes
suportam em áreas teste no território português,
especificamente o Parque Nacional da Peneda-Ge-
rês e a Zona de Proteção Especial de Castro Verde. A
abordagem concetual e metodológica deste projeto
encontra-se também em teste noutras Áreas Agríco-
las de Elevado Valor Natural em Espanha, na Alema-
nha e na Escócia. Pretende-se, genericamente, per-
ceber de que forma os sistemas agrícolas podem
ser utilizados enquanto instrumento de suporte
a políticas de conservação e gestão de paisagens
agrícolas de elevado valor natural.
3. As Áreas Agrícolas de Elevado Valor
Natural em Portugal
Portugal está entre os Estados-Membros considera-
dos como ‘
hotspots’
no que diz respeito à ocorrên-
cia de Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural, o
que está relacionado com a forma como as paisa-
gens agrícolas têm sido geridas ao longo dos sécu-
los (Moreira
et al
., 2005; Oppermann
et al
., 2012).
De facto, dados publica-
dos estimam que, em 2009,
52,4% da SAU estaria ocu-
pada por sistemas agrícolas
de elevado valor natural,
valor esse que decresceu
para 51,8% em 2011 (GPP,
2010). De uma forma geral,
têm sido descritas quatro
tipologias de sistemas agrí-
colas de elevado valor natu-
ral em Portugal Continental
(Moreira
et al
., 2005; GPP,
2010; Oppermann
et al
.,
2012): os sistemas de pasto-
reio extensivo de montanha
e os sistemas policulturais complexos, dominantes
na região Norte; e as pseudo-estepes cerealíferas e
os montados, dominantes na região Sul. Tal como
a generalidade das Áreas Agrícolas de Elevado Valor
Natural, estas paisagens estão adaptadas às condi-
ções ambientais locais – climáticas, edáficas, topo-
gráficas – o que se reflete quer ao nível dos próprios
… as Áreas Agrícolas de Elevado
Valor Natural constituem zonas onde
o homem (agricultor e membros da
comunidade rural) e a natureza evoluíram
conjuntamente ao longo dos tempos.
Por este motivo, além da reconhecida
contribuição destas paisagens para a
manutenção da agrobiodiversidade, tem
sido amplamente reconhecido o papel
que podem desempenhar para que
sejam atingidos os objetivos europeus
relacionados não só com sustentabilidade
ambiental, mas também com segurança
alimentar e bem-estar humano.