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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

42

cadas como tipo 3 dizem respeito a paisagens agrí-

colas que asseguram o habitat adequado a uma ou

mais espécies raras ou com estatuto de conserva-

ção no contexto europeu ou mundial, mesmo em

casos em que as práticas sejam reconhecidamente

intensivas.

De uma forma geral, as Áreas Agrícolas de Elevado

Valor Natural constituem zonas onde o homem

(agricultor e membros da comunidade rural) e a

natureza evoluíram conjuntamente ao longo dos

tempos. Por este motivo, além da reconhecida con-

tribuição destas paisagens para a manutenção da

agrobiodiversidade, tem sido amplamente reco-

nhecido o papel que podem desempenhar para

que sejam atingidos os objetivos europeus rela-

cionados não só com sustentabilidade ambiental,

mas também com segurança alimentar e bem-estar

humano. Acresce ainda que o carácter multifuncio-

nal destas paisagens temsido associado à prestação

de múltiplos serviços de ecossistema, para além do

suporte à biodiversidade,

nomeadamente no que diz

respeito aos serviços de

produção (alimento, fibra,

lenha), regulação (regula-

ção de clima, erosão) e cul-

turais (capital estético, sim-

bólico). Neste contexto, o

projeto

FARSYD – Farming

systems as tool to support

policies for effective conser-

vation and management of

high nature value farmlands

(Os

sistemas

agrícolas

enquanto instrumento de

suporte a políticas de con-

servação e gestão de paisagens agrícolas de ele-

vado valor natural), atualmente a ser desenvolvido

em parceria entre o CIBIO e o ISA (Instituto Superior

de Agronomia, Universidade de Lisboa) visa contri-

buir para aumentar o conhecimento relativo à rela-

ção entre os sistemas agrícolas e os níveis de bio-

diversidade e de serviços de ecossistema que estes

suportam em áreas teste no território português,

especificamente o Parque Nacional da Peneda-Ge-

rês e a Zona de Proteção Especial de Castro Verde. A

abordagem concetual e metodológica deste projeto

encontra-se também em teste noutras Áreas Agríco-

las de Elevado Valor Natural em Espanha, na Alema-

nha e na Escócia. Pretende-se, genericamente, per-

ceber de que forma os sistemas agrícolas podem

ser utilizados enquanto instrumento de suporte

a políticas de conservação e gestão de paisagens

agrícolas de elevado valor natural.

3. As Áreas Agrícolas de Elevado Valor

Natural em Portugal

Portugal está entre os Estados-Membros considera-

dos como ‘

hotspots’

no que diz respeito à ocorrên-

cia de Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural, o

que está relacionado com a forma como as paisa-

gens agrícolas têm sido geridas ao longo dos sécu-

los (Moreira

et al

., 2005; Oppermann

et al

., 2012).

De facto, dados publica-

dos estimam que, em 2009,

52,4% da SAU estaria ocu-

pada por sistemas agrícolas

de elevado valor natural,

valor esse que decresceu

para 51,8% em 2011 (GPP,

2010). De uma forma geral,

têm sido descritas quatro

tipologias de sistemas agrí-

colas de elevado valor natu-

ral em Portugal Continental

(Moreira

et al

., 2005; GPP,

2010; Oppermann

et al

.,

2012): os sistemas de pasto-

reio extensivo de montanha

e os sistemas policulturais complexos, dominantes

na região Norte; e as pseudo-estepes cerealíferas e

os montados, dominantes na região Sul. Tal como

a generalidade das Áreas Agrícolas de Elevado Valor

Natural, estas paisagens estão adaptadas às condi-

ções ambientais locais – climáticas, edáficas, topo-

gráficas – o que se reflete quer ao nível dos próprios

… as Áreas Agrícolas de Elevado

Valor Natural constituem zonas onde

o homem (agricultor e membros da

comunidade rural) e a natureza evoluíram

conjuntamente ao longo dos tempos.

Por este motivo, além da reconhecida

contribuição destas paisagens para a

manutenção da agrobiodiversidade, tem

sido amplamente reconhecido o papel

que podem desempenhar para que

sejam atingidos os objetivos europeus

relacionados não só com sustentabilidade

ambiental, mas também com segurança

alimentar e bem-estar humano.