Como promover os serviços de ecossistema na agricultura usando a biodiversidade
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embora de modo sistemático apenas nos últimos
três séculos, através de estudos científicos e cole-
ções biológicas. Mais recentemente, as iniciativas
de ciência cidadã, muitas vezes na sequência da
atividade das sociedades científicas e associações
naturalistas, dão azo à compilação de grandes volu-
mes de dados. Esta informação pode depois ser
disponibilizada de forma livre e gratuita através de
várias bases de dados entre elas o
Global Biodiver-
sity Information Facility (
GBIF), organização intergo-
vernamental onde Portugal participa desde a sua
criação, em 2001.
O caso de estudo da perceção da fileira da
vinha
Foi objetivo deste artigo enquadrar os serviços
dos ecossistemas na agricultura e como podem
ser promovidos por via do conhecimento e ges-
tão da agrobiodiversidade e, ainda, apresentar um
caso de estudo prático que envolveu a consulta de
diferentes
stakeholders
de um setor da agricultura
muito dinâmico, como é o da vinha e do vinho, para
conhecer as suas perceções sobre agrobiodiversi-
dade e como esta pode contribuir para a promo-
ção dos serviços dos ecossistemas e assim da sus-
tentabilidade do setor.
A fileira do vinho e da vinha tem elevado impacto
económico, representando um dos produtos portu-
gueses com maior taxa de exportação. Além disso,
é uma fileira que agrega valores culturais e sociais
reconhecidos, nomeadamente os associados à cul-
tura alimentar regional e a formas de ecoturismo
hoje em expansão. Do ponto de vista da proteção
ambiental, a fileira conta em crescendo com a pro-
dução em modo biológico e com a utilização de ins-
trumentos de avaliação da sustentabilidade pelas
empresas da fileira (PSVA, 2017). É assim um setor
suscetível de ser desafiado no futuro em áreas que
se podem relacionar com a agrobiodiversidade, por
exemplo, na criação de sistemas de produção inova-
dores e sustentáveis, no aumento da produção com
certificação biológica, na diminuição da pegada de
carbono das suas atividades, etc. Este poderá ser
um setor onde as empresas que aplicam princípios e
práticas de gestão da sustentabilidade, por exemplo,
a rotulagem específica e respetivos desempenhos
socioambientais reconhecidos pelo setor, venham
a beneficiar de um mercado de investidores e con-
sumidores potencialmente mais responsável (Mas
et
al
. 2016; Sellers 2016). Neste caso de estudo, centrá-
mo-nos numa seleção de
stakeholders
da fileira da
vinha e do vinho, proveniente de regiões vinícolas
com influência geoclimatológica comparável (Lis-
boa e Vale do Tejo e Alentejo) e ainda numa matriz
ecológica semelhante (sistema agroflorestal do
Montado), para homogeneizar o contexto ambien-
tal e assim anular a influência que este tem sobre
a produção de bens e serviços em interação com
a biodiversidade (Smale e Drucker, 2007; Jarvis
et
al
., 2006). Além disso, o Montado é qualificado (Pin-
to-Correia
et al
., 2011) como Área Agrícola de Ele-
vado Valor Natural, onde a conservação da biodiver-
sidade tem um valor acrescido.
Metodologia
Metodologia dos focus-groups
Este trabalho foi efetuado no contexto do projeto
de capacitação
Agrotraining – Comprovar o uso do
GBIF em agrobiodiversidade através da avaliação de
necessidades e formação
. Interessa, por isso, pro-
mover o conhecimento dos
stakeholders
sobre o
GBIF e o potencial que isto representa para a gestão
sustentável da atividade agrícola, o que passa tam-
bém por conhecer quais as necessidades e requi-
sitos destes
stakeholders
. Para isso a sua seleção
seguiu uma metodologia de estratificação em três
categorias: i) produtores; ii) reguladores); iii) inves-
tigadores. Utilizou-se uma amostra não-probabilís-
tica, por conveniência, característica da metodolo-
gia de
focus-groups
. Foram convidadas a participar
mais de 100 indivíduos/entidades, tendo confir-
mado a sua participação 30 e participado efetiva-
mente 24. A seleção dos produtores cingiu-se às
regiões vinícolas do Alentejo, Baixo Alentejo, Lezí-