Como promover os serviços de ecossistema na agricultura usando a biodiversidade
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peu mantém-se uma componente incontornável e
está entre os grandes objetivos da PAC pós-2020.
A sustentabilidade da produção agrícola e a segu-
rança alimentar e nutricional dependem da explo-
ração sustentável dos parentes silvestres das espé-
cies cultivadas, variedades autóctones, espécies
negligenciadas ou subutilizadas e do uso da bio-
diversidade local. Acresce o facto de que as alte-
rações globais, tais como as alterações climáticas,
têm o potencial de provocar grandes impactos nas
funções-chave, como os serviços de polinização
e controle de pragas. Promover o funcionamento
saudável dos ecossistemas garante a resiliência
da agricultura, à medida que esta se intensifica de
forma a assegurar a crescente produção de alimen-
tos. Por outro lado, a biodiversidade total de um
ecossistema tem implicações diretas na produtivi-
dade agroflorestal pelo papel que muitas espécies
desempenham, tais como modificação das pro-
priedades do solo, distribuição de espécies disper-
soras de sementes, polinizadores e outros auxilia-
res, distribuição e controlo biológico de pragas e
doenças, ou presença de espécies invasoras. A bio-
diversidade existente nas explorações e na paisa-
gem envolvente influencia a resiliência a fatores
de pressão e pode também ser usada em certifi-
cação e como indicador de práticas sustentáveis e
saúde ambiental, trazendo valor socioeconómico.
Desta forma, o grande desafio é promover a biodi-
versidade associada à agricultura – agrobiodiversi-
dade – que irá reforçar a resiliência dos ecossiste-
mas e mitigar alguns dos impactos que impedem os
agroecossistemas de fornecer mais bens e serviços.
A incorporação de princípios científicos associados
à ecologia nas práticas agrícolas, tais como a agri-
cultura de conservação, ou a gestão integrada de
pragas, mostrou que a intensificação da produção
pode ser melhorada através da gestão sustentável
dos ecossistemas e da utilização dos serviços dos
ecossistemas em benefício da agricultura.
A agrobiodiversidade engloba a variedade e variabi-
lidade de animais, plantas e microrganismos neces-
sários para suportar as principais funções do agroe-
cossistema, incluindo a sua estrutura e processos
que apoiam a produção de alimentos e a segu-
rança alimentar (FAO, 1999). A agrobiodiversidade
pode ser definida a partir das seguintes tipologias:
i) variedades de culturas, raças de gado, espécies
de peixes e recursos não domesticados (selvagens),
incluindo produtos de árvores, animais selvagens
caçados para alimentos e em ecossistemas aquá-
ticos (por exemplo, peixes selvagens); ii) espé-
Caixa 1 – A agrobiodiversidade associada aos pre-
cursores silvestres de plantas cultivadas
As espécies selvagens ou precursores silvestres de
plantas cultivadas (CWR) têm, frequentemente,
resistência a fatores bióticos e abióticos e poten-
cial para contribuir para a melhoria da segurança
alimentar (Vincent
et al
., 2013). A caracterização de
CWRs inexplorados é uma área científica em acen-
tuado desenvolvimento, pois estas espécies selva-
gens representam um importante reservatório de
recursos genéticos para o melhoramento de cultiva-
res (Romeiras
et al
., 2016). Dentro do “Hotspot da
Bacia Mediterrânea”, Portugal apresenta uma ele-
vada diversidade entre os CWR (Kell
et al
., 2007):
segundo o inventário Nacional de Recurso Genéti-
cos (ver Brehm
et al
. 2008), foram identificados 2319
taxa
, dos quais 97,5% são CWR, sendo 6,1% espé-
cies endémicas.
Refira-se, a título de exemplo, que os CWR estão
adaptados a condições climáticas extremas, como
é o caso de áreas costeiras fortemente expostas e
secas ou zonas de elevada salinidade (Monteiro
et
al
., 2013). Assim, a exploração da riqueza encerrada
neste germoplasma constitui a base para a aplicação
de diretrizes que apoiam o planeamento da conser-
vação da biodiversidade, assim contribuindo para o
progresso da preservação do ambiente e dos recur-
sos naturais para fazer face às alterações climáticas.
O conhecimento da diversidade dos recursos gené-
ticos ligados a características adaptativas, como a
secura ou salinidade, permitirá garantir que num
futuro próximo seja feita uma gestão sustentável dos
recursos naturais nacionais, reduzindo deste modo a
vulnerabilidade das culturas agrícolas face às altera-
ções climáticas.