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Gastronomia e produtos de qualidade

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maior procura de produtos tradicionais ou arte-

sanais;

preocupação com a matéria-prima e o processo

de produção.

Assim, e mesmo tendo em conta a primazia do

preço como fator da decisão de compra, a aceita-

ção de produtos diferenciados tem grande poten-

cial, em consequência da crescente sensibilidade

dos consumidores, associada a uma vontade e

capacidade de pagar por essa diferenciação.

Sendo então a diferenciação pela qualidade a via

mais favorável, em princípio, para enfrentar a nova

realidade do mercado, surge a questão de como

definir essa qualidade, uma vez que se trata de

um conceito que depende de fatores muito variá-

veis, como por exemplo a cultura das populações,

podendo ser associado ao cumprimento de legisla-

ção em matéria de segurança alimentar, ou ir mais

além, à característica específica de um produto ou

modo de produção.

Não obstante a existência de múltiplos regimes de

qualidade de produtos agroalimentares, ao nível

das políticas públicas interessa agir sobre aqueles

que resultam de um atributo endógeno e de um

contrato de confiança entre produtor e consumi-

dor, que leve a que essa característica seja com-

ponente da atividade económica como um todo,

e que o reconhecimento e regulação dessa desig-

nação de qualidade não seja pertença de um só

indivíduo, mas sim que assente numa justificação

coletiva, baseando-se num ou mais dos seguintes

fatores – processo de transformação/preparação,

património genético, modo de produção, origem

ou reputação/tradição.

Neste contexto, e considerando como fundamental

que a qualidade de um produto agroalimentar deve

ser remunerável pelo mercado, e que a sua produ-

ção acarreta custos acrescidos face aos produtos

não diferenciados, custos esses que por vezes são

ainda mais elevados em resultado de más estraté-

gias e abordagens que levam a situações de múlti-

plas certificações para o mesmo produto, ou níveis

de qualificação desajustados às características do

produto, é fundamental definir o posicionamento

pretendido e possível desse mesmo produto no

mercado, não confundindo vontade com necessi-

dade ou capacidade.

Para esse efeito, é possível considerar dois tipos

fundamentais de produtos, os de

input

que envol-

vem essencialmente consumo no local em que são

produzidos, muitas vezes associados a eventos de

carácter gastronómico ou cultural, e que geram

valor nos territórios através de atividades comple-

mentares como a hotelaria e restauração, e os de

output

, consumidos maioritariamente fora do local

em que são produzidos e que criam valor não só

nesses territórios mas também nas fileiras em que

estão posicionados, exigindo desenvolvimento de

circuitos comerciais e

marketing

, e estando por isso

mais sujeitos a pressões de mercado.

A materialização da capacidade destes produtos

em gerar valor para a atividade agrícola e para as

regiões rurais resulta de um conjunto de fatores e de

agentes que vão para além dos produtores e produ-

tos agrícolas, mas que devem estar inseridos na cul-

tura, na identidade e no envolvimento do local em

que se desenvolve a atividade primária, sendo de

destacar o papel da gastronomia enquanto poten-

cial gerador de mercado, de promoção, de siner-

gia com o turismo. Os chefes de cozinha podem

desempenhar uma ação fundamental na relação

produtos/consumidores, assim como as autarquias

na relação produtos/territórios.

Os exemplos de produtos como o vinho ou o azeite,

em que está já mais do que consolidada a sua rela-

ção com o local de produção ou a origem junto dos

consumidores, são cada vez mais um paradigma do

potencial do produto, que é levado a outros patama-

res de diferenciação e valor acrescentado quando

complementado com associações gastronómicas,

na confeção, apresentação e conceção de sinergias,