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A marca

Vinhos de Portugal

e sua projeção para o caso da Gastronomia Portuguesa

des tomadoras e seguidoras do projeto, dando-lhe

continuidade.

E o que se passa do lado da gastronomia? Uma

primeira questão que se nos coloca refere-se à

identidade ou carácter da

gastronomia

portuguesa.

Não sendo, de maneira

nenhuma um especialista

ou sequer conhecedor do

setor, as minhas perceções

resultam do facto de ser um

consumidor e, enquanto

tal, pergunto-me quais são os traços dominantes

da nossa gastronomia? A gastronomia portuguesa é

mediterrânica? Podemos falar em gastronomia por-

tuguesa ou apenas em gastronomias portuguesas?

Em que medida esses traços estão em processo de

afirmação ou de desagregação? É a gastronomia

portuguesa exportável ou o nosso limite ou ambi-

ção é o consumo cá dentro, por quem nos visita?

Note-se que a comunica-

ção da Marca

Vinhos de

Portugal, a world of diffe-

rence

, contém em si algu-

mas regras que visam con-

ferir consistência à mesma,

nomeadamente o facto de

serem

preferencialmente

utilizados vinhos produ-

zidos exclusivamente por castas autóctones ou

vinhos em que haja uma predominância destas cas-

tas autóctones.

Creio que se torna assim importante, com alguns

sacrifícios, definir o que se entende por gastrono-

mia portuguesa

5

excluindo o que não o seja. Mas

chegará?

5

Ainda recentemente, visitando uma das aldeias portu-

guesas mais emblemáticas, deparei-me com uma das

três “tascas” tidas como típicas com uma espantosa pro-

posta de

pizzas

.

Recordo também algumas ideias, que ouvi expor

alguns anos atrás a uma portuguesa líder de uma

empresa organizadora de eventos, sediada em Lon-

dres, e que baseava o sucesso

em petiscos e não

tapas

e no conceito de

local flavour dinner.

Ou

seja, se no vinho a identi-

dade resulta do uso predo-

minante de castas autóc-

tones, na gastronomia tal

poderia ser alcançado atra-

vés dos ingredientes de

produção local ou, se pre-

ferirmos, de produtos agrí-

colas

locais

(sendo este conceito de local relativa-

mente elástico)

6

.

Mas a segunda, e não menos importante questão,

é a que se prende com o tecido empresarial e ins-

titucional do setor, muito pulverizado, onde pre-

dominam negócios de cariz familiar, muitas vezes

de reduzido valor de negócio e onde as barreiras

à entrada são por regra

pequenas, senão mesmo

muito pequenas, ao contrá-

rio do que sucede no negó-

cio do vinho. Estas duas

características refletem-se

na volatilidade dos agentes

económicos (o número de

criações e encerramentos

de negócios de restauração

será várias vezes superior ao que sucede no setor

do vinho), bem como na ausência de lideranças for-

tes (no setor do vinho, a um significativo número de

associações fortes juntam-se empresas de alguma

dimensão e que funcionam como âncoras na estra-

tégia a seguir).

6

Porém, deve haver alguns limites ao uso do termo local,

sendo comuns os excessos. Sendo certo que quanto

mais

local maior identidade

, também é certo que o excesso de

local nos retira dimensão, tornando-se mais limitativo

quando se pretende exportar, como é o caso do vinho.

Nessa perspetiva, deve ser procurado algum equilíbrio

entre o minúsculo local e o global sem identidade.

… se no vinho a identidade resulta do uso

predominante de castas autóctones, na

gastronomia tal poderia ser alcançado

através dos ingredientes de produção

local ou, se preferirmos, de produtos

agrícolas locais…

… o tecido empresarial e institucional

do setor, muito pulverizado, onde

predominam negócios de cariz familiar,

muitas vezes de reduzido valor de

negócio e onde as barreiras à entrada são

por regra pequenas, senão mesmo muito

pequenas, ao contrário do que sucede no

negócio do vinho.