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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 9

SETEMBRO 2017

100

e que nos compete, a todos, partilhar conhecimen-

tos, proteger tradições e incentivar mudanças que

promovam este objetivo comum.

Deste movimento, deste intenso debate, promovido

também por muitos outros ao longo dos últimos

anos, nasceu o Manifesto para o Futuro da Cozinha

Portuguesa – ou Manifesto 0.0. Zero de origem; zero,

um número que não vale sozinho, que aguarda

pelos outros… É um documento que pretende defi-

nir denominadores comuns de uma cozinha que

fala muitas línguas, porque está viva e, desde sem-

pre, aberta ao mundo, mas que não perde de vista

a sua identidade. É este o Manifesto que o convida-

mos a ler e, se se revir nestes princípios, subscre-

ver. No entanto, subscrever este documento signi-

fica assumir um compromisso e, nas nossas casas,

escolas, cozinhas, serviços, associações, enfim, na

nossa comunidade, lutar pela sua materialização!

Manifesto para o Futuro da Cozinha Por-

tuguesa

1. Temos orgulho no nosso país, na nossa tradi-

ção gastronómica e reconhecemos a riqueza da

identidade da cozinha portuguesa!

2. A nossa identidade gastronómica é a nossa ori-

gem, o que nos funda como cozinheiros(as) – é

o reflexo do nosso território mas também dos

povos e culturas que a influenciam desde sécu-

los aos dias de hoje, contribuindo para a sua

riqueza e diversidade.

3. Promovemos a liberdade para criar e para explo-

rar novos caminhos, novos pratos, novos sabores.

4. Defendemos que o ato de cozinhar não se esgota

na procura do bom sabor. A cozinha é cerebral,

interventiva, criativa, subversiva.

5. A criatividade não pode ser um fim em si mesma;

deve ser consciente e informada e exprimir um

contributo novo para a nossa cozinha.

6. Usamos a técnica para potenciar a linguagem

individual de cada um de nós enquanto cozi-

nheiro(a), no respeito por uma filosofia alimen-

tar sustentável e de valorização da identidade

gastronómica nacional.

7. Respeitamos a sazonalidade dos produtos e os

ciclos biodinâmicos da Natureza.

8. Incentivamos o consumo responsável e susten-

tável dos produtos e das espécies animais, da

terra e do mar.

9. Reclamamos o direito de todas as crianças

conhecerem a identidade da nossa cozinha,

aprenderem a cozinhar comida saborosa, sau-

dável e de qualidade: tão importante como

aprender a ler e a escrever!

10. Reconhecemos o valor dos pequenos produto-

res, os produtos autóctones e produzidos local-

mente, fomentando a sustentabilidade dos

modos de produção e procurando recuperar

produtos esquecidos e diferenciadores do nosso

território.

11. Desafiamos todos os cozinheiros, consumido-

res, produtores, fornecedores, empresários do

sector, jornalistas, investigadores, críticos, artis-

tas, pensadores, a assumirem-se como agentes

de mudança e de promoção da cozinha portu-

guesa!