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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

70

mas calibrada por mais rigor, mais diferenciação

e preocupações de melhores resultados para os

objetivos convergentes de política pública em

matéria de ambiente-agricultura.

Por outro lado, a do desenho de um sistema de

incentivos que ajude o investimento nas explora-

ções, visando o aumento da biodiversidade e a

diminuição do impacto sobre o clima. Esta opção

deve claramente seguir um perfil de apoio ao

investimento, de natureza voluntarista, a ser pre-

miado, ou seja, apoiado pelo Estado, em função

da sua valia intrínseca e dos resultados alcança-

dos. É hoje perfeitamente possível medir níveis de

biodiversidade, no antes e no depois, e existem

experiências realizadas noutros países, supor-

tando até formas de qualificação ou diferencia-

ção para o mercado, onde sistemas voluntaristas

deste género são incentivados.

Finalmente, uma terceira componente deve ser

implementada, esta em forte consonância com

os objetivos de política (em muitos casos, mais

do que objetivos trata-se de compromissos assu-

midos internacionalmente por Portugal) da con-

servação da natureza e da biodiversidade. Esta

componente deve, por sua vez, ser ancorada em

dois tipos de medidas de apoio aos agricultores:

– O primeiro tipo, de forma a incentivar a recon-

versão ou adaptação da agricultura em áreas

protegidas ou classificadas, seguindo as orien-

tações recomendadas para o bom equilíbrio

dessas áreas e o cumprimento dos objetivos

para que foram criadas, deve assentar em

medidas do tipo agroambiental como, por

exemplo, as que têm existido na ZPE de Cas-

tro Verde e que tão bons resultados têm tido

no equilíbrio do triângulo agricultura rentável-

-conservação da natureza-sustentabilidade do

território.

Estas medidas deveriam ser desenhadas para

todas as Áreas Protegidas, e os Sítios de Impor-

tância Comunitária (SIC) e ZPE que elas com-

portam, privilegiando sobretudo aquelas onde

a agricultura tem maior incidência ou consti-

tui maior risco. Devem também ser realistas,

adaptadas às necessidades das intervenções

e suficientemente discriminadas, não se sub-

jugando a facilidades de gestão administrativa

que lhes roubam eficácia ou mesmo interesse

para suscitar a adesão dos agricultores. Sabe-

mos que é uma área, por vezes, de consen-

sos difíceis e histórico de “impossibilidades”,

mas se queremos realmente ter resultados é

necessário fazer o investimento público exigí-

vel nesta perspetiva, começando por perceber

a necessidade, fazendo-a perceber em sede

de negociação de políticas e programas, e

estruturando-se para as acompanhar e moni-

torizar não se resumindo apenas a controlos

administrativos, quantas vezes à distância ou

suportados por pouco conhecimento da reali-

dade.

– A segunda forma não pode mais ser adiada

e deve resultar de um amplo e assumido

consenso entre as tutelas do ambiente e da

agricultura. Sejamos diretos: a agricultura

está catalogada como sendo severa para o

ambiente e o ambiente pode reconhecer que

a agricultura pode ser a melhor forma de

encontrar resultados positivos a breve prazo

e, sobretudo, de forma sustentada e assimi-

lada pelos agentes do setor, para melhorar

o desempenho ambiental e, acima de tudo,

para garantir os objetivos estratégicos e espe-

cíficos de programas de conservação de espé-

cies e habitats.

A programação de políticas e dos fundos financei-

ros que as suportam tem que assimilar esta perspe-

tiva: é chegado o momento para, de forma pragmá-

tica, ajudar os agricultores a serem um

stakeholder

importante da conservação e não um suposto ini-

migo ou, mais do que isso, penalizá-lo até quando

ele quer ser mais proativo em termos de contribuir

para a melhor gestão da biodiversidade da sua

exploração ou propriedade.