cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR
N.º 8
JUNHO 2017
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é resultado, sobretudo, da perda ou alteração irre-
parável dos seus habitat
s.
Para se entender melhor o
commitment
da obser-
vação da natureza e da biodiversidade, resta ainda
referir que é muito difícil combater o efeito da dife-
rença de escala temporal entre vida humana e natu-
reza. A primeira decide-se e sente-se a curto prazo,
a segunda só é perfeitamente entendível a longo ou
muito longo prazo. Este facto determina um certo
egoísmo geracional que predomina na relação com
os valores naturais e a sua proteção.
Vêm estas palavras a propósito da importância crí-
tica de percebermos as coisas básicas que a natu-
reza significa, para que consigamos entender o que
é a sua conservação ou proteção e por que razão
esta é absolutamente relevante para a nossa pró-
pria, digamos assim, conservação e proteção.
É certo que os tempos mais recentes têm vindo a
desconstruir a ideia feita de uma certa dicotomia
entre homem e desenvolvimento humano, por um
lado, e conservação das espécies, da natureza e da
biodiversidade, por outro. Esta ideia, como sabe-
mos, enraíza-se fundamentalmente na dificuldade
de perceção da relação homem-natureza que ante-
riormente referimos, mas também, sejamos justos,
em inadequadas formas de comunicar por parte dos
defensores da conservação, muitos sem o conheci-
mento suficiente para reconhecerem a humildade
com que deve ser feita a abordagem desta magna
questão. A nossa capacidade de afirmação e conse-
quente possibilidade de obter sucesso nas causas ou
missões que percorremos está na relação inversa da
sobranceria com que “olhamos” os outros, as suas
motivações, constrangimentos ou dependências.
Contudo, esta noção de separação entre necessi-
dades humanas de desenvolvimento e constran-
gimentos causados pela natureza e sua conserva-
ção está longe de estar afastada e ainda condiciona
muito vastas áreas de decisão, desde a economia à
justiça, para não falar da política, onde, sempre que
se trava a “batalha” desenvolvimento-conservação,
quase sempre a perspetiva vencedora assenta na
convicção de que a satisfação das necessidades
humanas é prioritária, ainda que por vezes, ou mui-
tas vezes, estas sejam apenas irreais ou sirvam para
a remuneração de interesses de curto prazo.
A gestão da chamada política da conservação da
natureza é bem o exemplo desta perspetiva, ainda
que não assuma essa sua fragilidade ou mesmo
cumplicidade com interesses ou perspetivas contra
a conservação. Constrói-se num
portfólio
imenso
de tratados, leis, diretivas, estratégias e programas,
mas falha na maior parte dos casos quando tem
que optar pela aplicação dos compromissos assu-
midos ou acompanhar interesses económicos e
políticos conjunturais.
Recentes decisões de construção de determina-
dos empreendimentos, à
outrance
avaliados como
sendo de discutíveis impactos positivos de índole
económica ou até de promoção do chamado
desenvolvimento local, foram tomadas pelas auto-
ridades governativas da área do ambiente ainda
que na presença de pareceres técnicos (da própria
Administração Pública) com a demonstração das
consequências negativas para a preservação dos
sistemas naturais.
A mesma lógica de atitude se identifica quando o
financiamento público à conservação da natureza
é claramente preterido em função da promoção
de outras opções, algumas com reconhecido valor
ambiental, mas outras bastante discutíveis quando
se conhecem como destinatários as
performan-
tes
indústrias do ambiente. A afetação recente dos
recursos do Fundo Ambiental é uma boa demons-
tração do que dizemos.
É neste contexto de falta de perceção da interde-
pendência crítica entre as atividades humanas, com
maior ou menor perfil económico, e a conservação
e proteção da natureza, que se entende também,
embora não se subscreva nem se considere lógico e