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A importância da agricultura na conservação da natureza

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grandes pressões sobre esses mesmos recursos

ou que não garantam níveis adequados de repo-

sição de elementos de fertilidade do solo, quali-

dade e quantidade de água, ou biodiversidade,

incluindo a biodiversidade dos solos e a prote-

ção de espécies e habitat

s

.

Por outro, o acréscimo, apoiado em medida cre-

díveis e passíveis de avaliação factual, de incen-

tivos ou prémios à gestão da agricultura com a

perspetiva de gerar resultados múltiplos, designa-

damente benefícios diretos em habitat

s

e espé-

cies alvo de programas de conservação.

É certo que há mais de duas décadas, a Política

Agrícola Comum e os Programas de Desenvolvi-

mento Rural têm vindo a incluir medidas que favore-

cem uma agricultura mais sustentável, procurando

compensar os agricultores por algumas opções de

menor rendimento produtivo, mas de impacto mais

positivo para os recursos naturais e para a integri-

dade dos territórios rurais.

Isso deve ser reconhecido, mas, de forma idêntica,

deve ser evidenciado que muitas dessas medidas

se transformaram mais em processos de sustenta-

ção de rendimentos para equilibrar perdas ao nível

do mercado, do que verdadeiras medidas visando

diminuir os efeitos impactantes na conservação da

natureza e da biodiversidade e no clima.

Em muitos casos, as medidas adotadas têm sobre-

tudo remunerado o

status quo

, não sendo incenti-

vadoras de novas práticas e muito menos conse-

guindo, de forma evidente e com eficácia, traduzir

em concreto aquilo que é recorrentemente anun-

ciado em diversos estudos, ou seja, a atribuição da

parte devida no pagamento dos serviços do ecos-

sistema a agricultores que fomentam, garantem ou

sustentam sistemas naturais em boa harmonia.

Há muitos exemplos de fomento de boas práticas

ambientais, e mesmo nalguns casos de promoção

da biodiversidade, até em agriculturas de alto nível

de rendibilidade e em sistemas produtivos intensi-

vos. Convenhamos, porém, que apesar de saber-

mos que é necessário conviver com alguns “males”

(a conservação também é, e é sobretudo, uma

noção de equilíbrio), como seja o caso de algumas

regiões de agricultura sofisticada e com prevalên-

cia da otimização do rendimento, mais se poderia

fazer para reduzir os riscos geracionais de perdas

de biodiversidade ou esgotamento/pressão sobre

os recursos.

Em nosso entender, a próxima política agrícola e

os planos de desenvolvimento rural que a comple-

mentam deverão marcar uma ousada alteração

deste perfil continuado de medidas de melhoria

ambiental que, de forma

flat

e com pouco crité-

rio de qualidade são, na verdade, medidas dire-

tas de apoio ao rendimento sendo que, não raras

vezes, não são justamente remuneradoras de esfor-

ços suplementares para aumentar os níveis de bio-

diversidade ou a conservação/uso sustentado dos

recursos naturais, mas apenas formas de equilibrar

as receitas.

Estamos convictos que, não sendo desejáveis rutu-

ras abruptas na forma como hoje se concedem os

apoios à agricultura sustentável ou a intervenções

com objetivos de conservação, é possível e, sobre-

tudo, é chegada a oportunidade de sermos mais

proativos e mais comprometidos com a sustentabi-

lidade, promovendo uma maior convergência entre

objetivos de proteção do ambiente e objetivos de

incentivo às atividades agrícolas.

Neste contexto de pensamento, é necessário pros-

seguir três vias simultâneas ao nível do financia-

mento público à agricultura:

Por um lado, a da compensação por perdas de

rendimento, procurando todavia que estas sejam

avaliadas de forma realista e graduadas por sis-

temas de agricultura e territórios, e em função

do contributo positivo gerado para a sustentabi-

lidade. Esta será assim uma via de continuidade,