Agricultura e biodiversidade: uma diversidade de temas
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quanto à respetiva extensão, frequência e intensi-
dade (Meffe e Carroll 1997). Esta noção questionou
velhas ideias segundo as quais a diversidade bioló-
gica seria máxima em ecossistemas em equilíbrio
(clímax da sucessão) e não perturbados.
A hipótese representa-se graficamente na forma de
um U invertido num gráfico com o nível de pertur-
bação (frequência, intensidade ou extensão) em
abcissas e a diversidade de espécies ao nível da
paisagem (diversidade gama) em ordenadas. Como
vimos acima, a existência de AAEVN sugere que o
nível de biodiversidade em determinados sistemas
agrários europeus assume a forma de um U inver-
tido num gráfico em que o nível de intensidade agrí-
cola está representado em abcissas. A intensidade
agrícola está associada à intensidade e frequência
de perturbações artificiais tais como lavouras, adu-
bações, aplicações de herbicidas ou inseticidas,
colheitas ou episódios de pastagem. Deste modo, a
ideia de AAEVN com o pico de diversidade em níveis
intermédios de intensidade coincide com a hipó-
tese de Connell, se identificarmos nível de inten-
sidade com nível de perturbação. E se o modelo
subjacente de resposta da diversidade for este, a
opção de renaturalização (abandono da gestão)
não será necessariamente a melhor opção em ter-
mos de conservação. Igualmente, a intensificação
produtiva numas terras para entregar as restantes à
natureza (
land sparing
) não será também uma boa
opção em termos de conservação (ver também o
artigo de Moreira e Lomba neste volume).
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