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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

16

AAEVN, por um lado, ou, por outro, a intensifica-

ção agrícola (Agência Europeia do Ambiente, 2004).

Esta associação do ”pico” da biodiversidade com

um nível intermédio (baixo, mas não nulo) de inten-

sidade agrícola ou pastoril, explicitada aliás num

gráfico apresentado pela Agência Europeia do

Ambiente (2004, p. 5), evoca

claramente a hipótese do

nível intermédio de pertur-

bação, proposta por Con-

nell em 1978. Esta hipótese

associa o máximo de diversidade de espécies a regi-

mes de perturbação ecológica (por exemplo, fogo)

de frequência, escala ou intensidade intermédias,

os quais geram um padrão espacial de manchas

situadas em diversas etapas de recuperação pós-

-perturbação (sucessão ecológica), que proporcio-

nam, no seu conjunto, habitat a uma grande diver-

sidade de espécies.

O impacte dos sistemas agrários na diversidade de

espécies deve ser avaliado a diferentes níveis espa-

ciais. Whittaker (1960 e 1977, citado por Jennings,

1996, e Hamilton, 2005) considera quatro níveis

espaciais hierárquicos aos quais se pode proceder

à amostragem da diversidade de espécies:

diversidade pontual

, correspondente a uma

amostragem ao nível do micro-habitat, no inte-

rior de um ecossistema ou mancha (10-100 m

2

);

diversidade alfa

, correspondente a uma amos-

tragem ao nível do ecossistema ou mancha

(0,1–1 000 ha);

diversidade gama

, correspondente a uma amos-

tragem ao nível de uma paisagem, composta

por diversos tipos de ecossistemas ou manchas

(1 000–1 000 000 ha);

diversidade epsilon

, correspondente a uma amos-

tragem ao nível de uma região biogeográfica,

composta por diferentes paisagens (1 000 000–

100 000 000 ha).

Estes diversos índices de diversidade, a múltiplos

níveis de amostragem, são também designados por

diversidades de inventário.

Se considerarmos, não a diversidade de espécies,

a cada nível, mas sim o grau de mudança na com-

posição específica (i.e. quantas espécies mudam)

entre pontos dentro do

mesmo ecossistema/man-

cha, entre manchas de uma

mesma paisagem, ou entre

paisagens dentro de uma

mesma região, temos três índices de diferenciação

de diversidades:

diversidade padrão

– mudança na composição

específica entre pontos dentro de um mesmo

ecossistema ou mancha; está relacionada com a

heterogeneidade interna da mancha;

diversidade beta

– mudança na composição

específica entre diferentes ecossistemas /man-

chas dentro de uma mesma paisagem; está rela-

cionada com a heterogeneidade entre ecossiste-

mas;

diversidade delta

– mudança na composição

específica entre diferentes paisagens, ao longo

de um gradiente biogeográfico principal (climá-

tico ou fisiográfico), que representa aqui o eixo

de heterogeneidade subjacente.

A título de exemplo, pense-se num sistema agro-

pastoril de montanha que introduziu, ao longo do

tempo, espaços abertos – pastagens mantidas pelo

fogo e pelo pastoreio, terras de cultivo e prados de

feno ou lameiros – numa paisagem originariamente

dominada por uma comunidade florestal natural,

como o carvalhal de folha caduca. Este exemplo

é muito característico de diversas áreas de mon-

tanha do Norte e Centro de Portugal, muitas delas

classificadas como áreas protegidas ou sítios da

Rede Natura 2000. A introdução do sistema agro-

pastoril implica perda e fragmentação do carvalhal,

podendo perder-se algumas espécies característi-

O impacte dos sistemas agrários na

diversidade de espécies deve ser avaliado

a diferentes níveis espaciais.