Perspetiva económica sobre as perdas de biodiversidade e de serviços de ecossistemas
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De acordo com Pearce
et al
., 2006, os métodos de
avaliação que não recorrem ao mercado, quando
seguem as melhores técnicas disponíveis, fornecem
números credíveis que podem ser comparados aos
obtidos pelos métodos de mercado.
A utilização direta destes valores
na construção de
modelos económicos é contudo problemática, uma
vez que: não podem ser aplicados a outras zonas
sem ter em consideração fatores locais
11
; a cober-
tura dos serviços ecossistémicos está longe de ser
completa e não capta as ligações entre o serviço e o
estado qualitativo do bioma; e, finalmente, os valo-
res médios que foram atribuídos a algumas catego-
rias de serviços de ecossistema refletem as avalia-
ções de países desenvolvidos que não podem ser
facilmente transferidas para situações de países em
desenvolvimento (sobretudo, no que se refere aos
serviços recreativos e culturais).
Os valores localmente aplicáveis podem ter origem
nos estudos, através da utilização de um procedi-
mento chamado “transferência de benefícios
”
. O
método, na sua versão mais simples, faz uma esti-
mativa individual de uma área similar no país ou
de um país similar. Na versão mais sofisticada (uti-
lizada em meta-análise), estimam-se os valores uni-
tários
dos serviços ecossistémicos de um determi-
nado sítio em função das características desse sítio,
bem como das características socioeconómicas e
geográficas da região ou país e do método de esti-
mação utilizado. A estimativa
12
utiliza dados de
estudos individuais para construir a base de dados
de meta-nível, a partir da qual é efetuada uma esti-
mativa estatística da função.
Métodos de preferência
declarada:
avaliação contin-
gente, escolha conjunta e avaliação de grupo
11
Pode-se constatar isso, analisando a extensão da varia-
ção em torno da média e mediana dos estudos resumi-
dos na Tabela 3 deste estudo.
12
Exemplos de funções meta-analíticas que foram estima-
das incluem: zonas húmidas europeias interiores; pas-
tagens; zonas húmidas globais e recifes de corais; servi-
ços florestais recreativos e passivos. Em todos os casos,
exceto nos recifes de corais, uma das variáveis explicati-
vas é o nível de renda
per capita
, medido em termos de
PPP.
O crescimento económico pode alterar o funciona-
mento do ecossistema. Se provoca a redução da
dimensão do serviço, pode ser usado o valor por
hectare anteriormente estimado e aplicado à área
perdida
13
. Se altera a qualidade do serviço, o tra-
balho deve então centrar-se sobre como valorizar
essas mudanças, valor geralmente não disponível.
Foi feita a tentativa de integrar as mudanças de bio-
diversidade
dentro da abordagem de ecossistema
,
através do indicador de biodiversidade MSA
14
–
Abundância média de espécies. À medida que as
abordagens de ecossistemas utilizam a área de
terra como base para o cálculo do valor dos ser-
viços obtidos, a componente MSA de uma região
geográfica é levada em conta multiplicando a área
por um valor MSA normalizado numa escala de zero
a um com normalização diferente para diferentes
serviços ecossistémicos
15
. As “áreas ajustadas por
MSA” foram estimadas para diferentes biomas em
todo o mundo e ao longo do tempo, remontando a
1900 e até anteriormente, pelo trabalho de mode-
lagem da biodiversidade empreendido pela equipa
GLOBIO dos Países Baixos (Alkemade
et al
., 2009).
O Capítulo 3 é dedicado à comparação entre os
diversos modelos económicos que integram na sua
estrutura os serviços de ecossistema, identificando
as suas virtualidades e as suas lacunas.
Embora existam vários modelos económicos que
analisam alguns aspetos das ligações entre recur-
13
Parte-se do pressuposto de que os valores marginais e
médios são iguais.
14
Os valores de MSA utilizados na metanálise são cons-
truídos a partir de indicadores extraídos da literatura e,
especificamente, a abundância de diferentes espécies
(número de indivíduos por espécie, densidade ou cober-
tura) registadas em áreas de vegetação primária (natural
ou relativamente intocada) e a abundância de espécies
em ambientes afetados pela atividade humana.
15
Por exemplo, se uma área é intocada e não houve perda
de biodiversidade, o seu valor MSA será um. Se for gerido
de alguma forma, o valor vai de 0,5 a 0,7, dependendo do
serviço que está a ser considerado. Uma área que se tor-
nou totalmente artificial e onde todas as espécies desa-
pareceram terá um valor de zero (Braat e ten Brink, 2008:
Capítulo 5).