cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR
N.º 9
SETEMBRO 2017
62
na distribuição do rendimento, com o risco de
pobreza a situar-se em 18,7% (mais 0,8 p.p. com-
parativamente a 2011) e a anular as melhorias que
se registaram desde 2005. Com igual tendência, a
taxa de privação aumentou 0,9 p.p. face a 2011, afe-
tando 21,8% dos agregados domésticos privados.
As variações positivas do indicador relativo ao
grau de abertura da economia portuguesa, reve-
laram um abrandamento das importações, dada a
diminuição da procura interna, a manutenção de
um crescimento elevado do valor das exportações,
bem como uma redução acentuada do PIB a pre-
ços correntes.
Em 2012, assistiu-se cumulativamente a um decrés-
cimo, ainda que ligeiro, do valor das despesas das
famílias residentes em bens alimentares com o
crescimento dos preços dos Produtos alimenta-
res e bebidas não alcoólicas e dos Restaurantes
e hotéis, avaliado pela taxa de variação do Índice
de Preços no Consumidor (IPC), a registar um cres-
cimento superior a 2011. Esta situação conjuntu-
ral teve impacto nas disponibilidades alimentares,
particularmente em 2012, mas também no quin-
quénio 2012-2016, em que as médias das dispo-
nibilidades alimentares foram, para a maioria dos
produtos, inferiores às do período 2008-2011, até
porque os resultados desfavoráveis dos indicado-
res socioeconómicos, embora com evoluções de
menor intensidade, continuaram a fazer-se sentir
em 2013 e alguns ainda em 2014.
Novos padrões alimentares, condições climaté-
ricas extremas, condições de mercado e altera-
ções legislativas ocorridas no quinquénio 2012-
2016 tiveram impacto no padrão e quantidade
do consumo aparente de produtos alimentares
Assistiu-se a uma redução do consumo aparente
de carne, pescado, cereais e óleos e gorduras. Em
sentido oposto, aumentaram as disponibilidades
dos produtos frescos (hortícolas e fruta), batata,
leguminosas secas, açúcar e produtos estimulan-
tes (café e chocolate). Imunes ao ciclo recessivo
estiveram também as disponibilidades alimenta-
res dos peixes salgados secos que, inclusivamente,
reforçaram as suas disponibilidades no grupo do
pescado. A alteração dos padrões alimentares e a
extinção do regime de quotas leiteiras agravaram
a redução do consumo aparente de leite, a situa-
ção de seca em 2012 reduziu ainda mais as dispo-
nibilidades de carne e os limites à captura de sar-
dinha impostos no quadro das medidas de gestão
adotadas para este recurso tiveram forte impacto
na evolução das capturas de pescado. Para alguns
dos produtos alimentares, o nível de disponibilida-
des manteve-se, mas aumentaram as exportações,
nomeadamente: o milho, uma das mais importan-
tes culturas arvenses em Portugal beneficiou de
novas áreas de regadio do perímetro de rega de
Alqueva, o que fez disparar a produção; os cereais
de outono/inverno, pela aposta na qualidade e os
ovos com a entrada em funcionamento de unida-
des produtivas de maior dimensão, na sequência
do processo de adaptação de gaiolas melhoradas,
tendo em vista o cumprimento da legislação comu-
nitária relativa à proteção das galinhas poedeiras.
Roda dos Alimentos
No quinquénio 2012-2016, a Balança Alimentar
Portuguesa (BAP) apurou um aporte calórico diá-
rio médio disponível para consumo por habitante
de 3 834 kcal, inferior às 3 938 kcal registadas no
período 2008-2011. A trajetória de descida das dis-
ponibilidades alimentares, expressas em calorias,
teve início em 2010 e prolongou-se até 2013, regis-
tando uma variação média anual negativa de 0,9%.
Entre 2013 e 2016, a trajetória infletiu a um ritmo
médio anual de 1,0%, totalizando 3 895 kcal em
2016, mais 112 kcal por dia e por habitante.
A comparação da distribuição das quantidades
de produtos alimentares disponíveis diariamente
para consumo
per capita
apuradas pela BAP com
o padrão alimentar recomendado pela Roda dos