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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

86

Os recursos fitogenéticos e a sua conservação

desempenham um papel cada vez mais importante

na segurança alimentar mundial e no desenvolvi-

mento económico sustentável de cada país.

A conservação organizada das coleções é um pré-

-requisito para que a presente e futuras gerações

tenham possibilidade de vir a utilizar a diversidade

de modo responsável e sustentável, para aumentar

a diversidade dos e nos sistemas produtivos, sensi-

bilizar o público em geral para as questões da bio-

diversidade e permitir um enquadramento político

mais adequado para as questões da sustentabili-

dade ambiental. Deve permitir ainda a mitigação

e adaptação dos sistemas produtivos aos novos

cenários e novos desafios.

Conservar é colher, caraterizar, avaliar e documentar

os recursos genéticos vegetais. Conservar uma varie-

dade sem informação de origem e ou avaliação tem

valor limitado. A informação associada a cada amos-

tra ou acesso é fundamental e, por isso, nos últimos

três anos o Instituto Nacional de Investigação Agrária

e Veterinária, I. P. (INIAV), com a assessoria da equipa

de informática da Direção Regional de Agricultura de

Pescas do Norte e o apoio do Biodiversity Internatio-

nal e o do Crop Diversity Trust, organizou e impor-

tou a informação recolhida e guardada durante qua-

tro décadas no Banco Português de Germoplasma

Vegetal (BPGV) para a plataforma GRIN GLOBAL. Esta

informação está agora acessível ao público através

da página do INIAV, no endereço

http://bpgv.iniav.pt

.

As variedades locais portuguesas são também repo-

sitórios de conhecimentos tradicionais, valores cul-

turais e históricos: transmitem-nos a forma como as

gerações anteriores viveram, cultivaram, utilizaram

e geriram essas variedades, representam a nossa

herança cultural.

O que são recursos genéticos vegetais?

Recursos genéticos vegetais são, de acordo com o

Tratado Internacional dos Recursos Fitogenéticos

para a Alimentação e a Agricultura e com a Con-

venção Internacional da Biodiversidade, o material

genético de origem vegetal com valor real ou poten-

cial para a alimentação e agricultura.

Porquê conservar recursos genéticos vege-

tais?

O crescimento populacional mundial, que se prevê

que vá atingir 9 mil milhões em 2050, exige mais ali-

mentos, maior produção, maiores rendimentos. Em

simultâneo, está a ocorrer a perda de superfície ará-

vel e existem maiores desafios ambientais e altera-

ções climáticas. Devido a estes fatores, os sistemas

agrícolas vão sofrendo modificações e as principais

culturas que foram o foco dos melhoradores atin-

gem os patamares máximos dos seus rendimentos,

o que determina a necessidade urgente da susten-

tabilidade dos sistemas produtivos.

As plantas correspondem a 80% da dieta humana.

Há 350 mil espécies vegetais reconhecidas (

The

Plant List

, 2013), 30 mil das quais são comestíveis,

sendo 7 mil cultivadas ou colhidas na natureza

como alimento. Apenas 30 dessas espécies forne-

cem 95% das calorias nessa dieta. O arroz, o trigo,

o milho e a batata fornecem mais de 60% das nos-

sas calorias (FAO, 2015).

Se não forem aplicadas contramedidas a este

empobrecimento da variabilidade genética, as con-

sequências serão graves, sobretudo quando asso-

ciadas a fenómenos de alterações climáticas.

Os anos e a história mostram que os sistemas produ-

tivos assentes em variedades com uma base gené-

tica estreita têm maior vulnerabilidade e podem ser

completamente destruídos. Os melhoradores têm

assim necessidade de recorrer às variedades locais

com variabilidade genética substancial ou aos seus

parentes silvestres para procurar genes de resistência.

Embora a perda contínua de biodiversidade agrí-

cola ao nível das explorações agrícolas continue a