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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

56

tornaram habitats privilegiados para muitas novas

espécies.

Durante muitos séculos, estes ecossistemas manti-

veram-se muito estáveis, já que as transformações

sucediam de forma muito lenta, permitindo a adap-

tação da biodiversidade que lhes estava associada.

Só a partir do século XX, sobretudo na Europa

do pós-Guerra, com a necessidade premente de

aumentar a produção agrícola para alimentar a

população que se encontrava muito carenciada,

foi amplamente difundido um novo modelo tec-

nológico na agricultura, o modelo químico-mecâ-

nico. Este modelo baseou-se na dupla substituição

de trabalho humano por máquinas e de proces-

sos ecológicos por

inputs

químicos que levaram ao

crescimento acentuado da produtividade da terra,

à custa do aumento da artificialização dos agroe-

cossistemas (Santos,2016).

A agricultura, como atividade económica que é, está

invariavelmente ligada à sociedade, refletindo a sua

estrutura e evolução (Almeida, 2004). Desta forma,

a crescente consciencialização dos problemas eco-

lógicos provocados pela atividade humana, que se

tem vindo a generalizar nos países mais desenvol-

vidos, também se repercute na agricultura, com a

procura de métodos de produção ambientalmente

sustentáveis, como o modo de produção biológico

ou a agricultura de conservação.

Para além disso, na União Europeia, a reforma da

Política Agrícola Comum, realizada em 1992, intro-

duziu as medidas agroambientais, que se torna-

ram um instrumento de política fundamental para

motivar os agricultores a alterarem os seus procedi-

mentos no sentido da sustentabilidade ambiental.

Este instrumento levou à implementação em todos

os países da União Europeia de apoios à introdu-

ção ou continuação da aplicação de métodos agrí-

colas compatíveis com a proteção e melhoria do

ambiente, que persistem até aos dias de hoje, com

uma importância cada vez mais reforçada.

Importância da agricultura na gestão dos

ecossistemas

A agricultura é uma das principais atividades eco-

nómicas com responsabilidade na gestão dos ter-

ritórios e seus ecossistemas. Na UE-28, em 2013,

existiam 10,8 milhões de explorações agrícolas,

que somavam 175 milhões de hectares de Super-

fície Agrícola Utilizada (SAU), o que significa que a

atividade agrícola geriu aproximadamente 40% da

totalidade da superfície terrestre da União (Euros-

tat, 2015).

Em Portugal Continental, de acordo com o Recen-

seamento Agrícola 2009, existiam 278 114 explora-

ções agrícolas, explorando 3,5 milhões de hectares,

o que se traduz numa percentagem de área gerida

pela agricultura muito semelhante à da União Euro-

peia.

Quanto à composição da SAU (3,5 milhões de ha),

os prados e pastagens permanentes representam

quase metade (47,4%), as Terras Aráveis, 32,7%, e

as Culturas Permanentes, 19,4%. Observou-se, nas

últimas décadas, uma significativa transferência na

ocupação do solo de terras aráveis para os prados e

pastagens, com particular destaque para as espon-

tâneas pobres (PDR 2020, 2014).

Para além disso, a Rede Natura 2000, instituída com

a finalidade de assegurar a conservação a longo

prazo das espécies e dos habitats mais ameaçados

da Europa, abrange, em Portugal Continental, perto

de 21% da superfície do território e cerca de 18%

da SAU, na qual os valores de conservação estarão

estreitamente associados a sistemas agrícolas tra-

dicionais.

Moreira

et al

. (2005) estimaram a dependência das

espécies e habitats alvo da Rede Natura 2000 em

Portugal, face aos sistemas agrícolas e agroflores-

tais extensivos. Principais resultados:

47% das 96 espécies alvo de vertebrados depen-

dem destes sistemas extensivos,