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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

8

ii) a agricultura como utilizadora de serviços de

ecossistema, predominantemente de regulação

ou suporte. Estes serviços podem ser ligados a

uma análise da biodiversidade funcional (artigo

de Cristina Branquinho

et al

., da Universidade de

Lisboa);

iii) a agricultura como produtora de diversidade de

espécies, ecossistemas e paisagens, enquanto

atividade gestora de ecossistemas de elevado

valor natural no que se refere à conservação da

diversidade de espécies ameaçadas (artigo de

Francisco Moreira e Ângela Lomba, das Universi-

dades do Porto e de Lisboa) e à conservação de

paisagens que permitem múltiplos usos e valo-

res sociais (artigo de Teresa Pinto Correia, da

Universidade de Évora).

José Manuel Lima Santos, para além do enquadra-

mento da primeira secção, desenvolve ainda no seu

texto uma análise sobre as relações entre sistemas

agrários e a conservação da diversidade de espécies

no contexto das Áreas Agrícolas de Elevado Valor

Natural. No seu artigo, alerta para os desafios sub-

jacentes à dicotomia preservação da biodiversidade

vs

. aprovisionamento alimentar, a qual exige respos-

tas eficazes e articuladas. Por outro lado, desen-

volve as associações positivas entre sistemas agrá-

rios extensivos e biodiversidade na Europa, ameaças

para o seu declínio, apresentando ainda a necessi-

dade de utilização de métodos de avaliação basea-

dos em diferentes níveis espaciais.

Na secção

Observatório

, Cláudia Gonçalves, da

Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP),

faz uma análise sobre as complexas relações entre

agricultura e biodiversidade, partindo do trabalho

efetuado em 2013 no âmbito do

Relatório Global –

Biodiversidade na Agricultura

, resultante da colabo-

ração entre a CAP, a DGADR, a LPN e a SPEA. O pro-

jeto subjacente a este trabalho foi realizado em duas

fases: na primeira, foi feita uma caracterização das

explorações agrícolas selecionadas e uma inven-

tariação da sua biodiversidade; na segunda fase,

foram propostas aos agricultores medidas de gestão

para a promoção da biodiversidade e foi monitori-

zada a sua aplicação. O artigo conclui com a análise

de algumas “boas práticas” e com a apresentação

de sugestões em matéria de políticas para a promo-

ção da biodiversidade nas áreas agrícolas, em ter-

mos de conservação de espécies ameaçadas, Rede

Natura 2000 e Áreas Agrícolas de Alto Valor Natu-

ral. “

Para que no futuro seja possível à generalidade

dos agricultores, enquanto prestadores de serviços

ambientais, atingirem metas mais ambiciosas e exi-

gentes do ponto de vista da biodiversidade, é neces-

sário garantir que os compromissos a assumir pelos

agricultores sejam o mais ajustados possível à reali-

dade concreta das suas explorações.

Tito Rosa, da Liga para a Proteção da Natureza (LPN),

refere-se à necessidade de ver o bem-estar humano

e a conservação da biodiversidade como processos

interdependentes. Sublinha também a necessidade

de políticas públicas que integrem produção/bem-

-estar humano e conservação, bem como a impor-

tância da ação de associações da sociedade civil

(associações de agricultores, ONGAs) e da concerta-

ção estratégica entre decisores políticos e diversos

stakeholders

para assegurar o sucesso das ações e

das políticas no terreno. “

Não faz hoje sentido que

operações de gestão ou restauração de habitats com

alta classificação no quadro das Diretivas da Rede

Natura e/ou intervenções visando a recuperação de

espécies ameaçadas não sejam incentivadas atra-

vés da intervenção, com consequente remuneração

desse serviço, dos agricultores

”.

Slide: Paisagem natural da serra, lameiros; Lamego, Portuga

l

BRÁS, Jaime (1980)

, Coleção do acervo do Ministério da Agricultura,

Florestas e Desenvolvimento Rural