A agricultura e a paisagem, suporte de múltiplos usos e valores sociais
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europeia. É sobre esta dimensão da paisagem que
o presente texto se debruça.
Complementar às restantes, a prioridade 5) procura
explorar as formas de aumentar o capital humano e
social, necessário e fundamental para qualquer um
dos objetivos das prioridades anteriores, tanto den-
tro do setor agrícola como
na comunidade rural no seu
conjunto. Sem pessoas que
possam entender as novas
questões que hoje se colo-
cam à agricultura e posicio-
nar-se de uma forma inova-
dora face a essas questões,
contribuindo para novos
arranjos institucionais e novos paradigmas de ges-
tão, a tão procurada inovação na agricultura euro-
peia dificilmente será conseguida.
Os processos de transição rural e o papel
da paisagem
As teorias da transição descrevem a coexistên-
cia espacial, temporal e estrutural de processos de
transição nas áreas rurais da Europa de hoje. A agri-
cultura mantém-se no centro do turbilhão de ques-
tões de segurança alimentar, equilíbrio ambien-
tal, mudanças climáticas e utilização dos recursos.
Há, todavia, uma expetativa crescente por parte da
sociedade em relação aos outros bens e serviços
fornecidos pela paisagem rural.
As transformações em curso
estão em grande parte liga-
das à restruturação do setor
agrícola, incluindo inten-
sificação e extensificação,
especialização e concen-
tração, levando a mudan-
ças radicais no uso do solo,
dos fatores de produção e do capital humano. Estas
transformações relacionam-se também com os pro-
cessos de urbanização e com as mudanças socioe-
conómicas a várias escalas. E resultaram não só em
fluxos e realocação de pessoas e atividades, sobre-
tudo no sentido da concentração de pessoas nas
áreas urbanas e do esvaziamento das áreas rurais,
mas também, mais recentemente, em processos de
re-ruralização, ou seja, de fluxos de retorno ao rural,
o que implica novas relações de poder à escala
local e novos atores envol-
vidos na gestão dos recur-
sos no espaço rural. Assim,
o espaço rural e, com ele,
a paisagem foram progres-
sivamente mudando de
zonas exclusivamente de
produção, para zonas tam-
bém de consumo do pró-
prio espaço (aproveitamento dos bens públicos) e
de proteção do mesmo (proteção dos recursos e da
paisagem) (Holmes J., 2006).
Estas dimensões emergentes estão ligadas ao envol-
vimento de uma comunidade mais vasta de atores
a múltiplas escalas de governança, aumentando
em muito a complexidade social do espaço rural. A
multifuncionalidade da agricultura não contempla
assim apenas a diversidade da produção agrícola
e a atenção à qualidade da paisagem, mas mesmo
uma mudança de paradigma para a gestão de todo
o espaço rural (Pinto-Correia e Kristensen, 2013).
A paisagem rural, e agrícola em particular, é a enti-
dade espacial onde todos estes fatores de mudança
e novas procuras se encontram. É na paisagem, à
escala local, que a produ-
ção como construtora da
paisagem e as atividades
que se baseiam nos bens
públicos se encontram de
facto, e onde os diferentes
atores se reúnem e intera-
gem. A paisagem é assim,
além de tudo mais, um mediador para a gestão
integrada do espaço rural e das diferentes procu-
ras e expetativas relativas a esse espaço. A paisa-
… o espaço rural e, com ele, a paisagem
foram progressivamente mudando de
zonas exclusivamente de produção,
para zonas também de consumo do
próprio espaço (aproveitamento dos
bens públicos) e de proteção do mesmo
(proteção dos recursos e da paisagem).
A paisagem é assim, além de tudo mais,
um mediador para a gestão integrada
do espaço rural e das diferentes procuras
e expetativas relativas a esse espaço.
A paisagem é uma base que todos
reconhecem e na qual todos se reveem.