Cultivar_29

8 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 29 DEZEMBRO 2023 – Indústria agroalimentar e às importações, podendo ser da maior relevância para o desenvolvimento do setor primário nacional, quer na agricultura, quer nas pescas. Existe um potencial, que pode ser ainda mais desenvolvido, que se refere ao investimento em unidades de transformação de diferentes dimensões, desde grandes unidades industriais, próximas de centros de logística, até unidades de pequena e média dimensão, ao longo de todo o território nacional. Os principais indicadores da indústria agroalimentar nacional demonstram um crescimento consistente e persistente no seu contributo para a economia nacional. Diríamos que, apesar da sua representatividade no emprego e nas exportações e de um crescimento acima do resto da economia, este é um “movimento silencioso”, tendo em conta que a economia baseada nos bens transacionáveis e com aposta nos mercados internacionais não merece tanta atenção como alguns temas emergentes. Contudo, verificamos que este ramo de atividade tem vindo a ser exposto e a dar resposta a desafios tão variados como a digitalização (e logística), a energia, a economia circular, a bioeconomia, as preocupações com a nutrição. Nas crises mais recentes, sobretudo durante a pandemia e o período de elevada inflação, o setor revelou, em conjunto com os setores a montante e a jusante, nomeadamente o setor agrícola, uma grande resiliência, mantendo a capacidade de assegurar o abastecimento alimentar. O grau de abertura das indústrias agroalimentares é muito elevado e com tendência de crescimento, evidenciando a exposição ao exterior e o carácter transacionável da produção agroalimentar. A orientação para o mercado externo tem igualmente vindo a aumentar, num processo de globalização que é generalizado. Os dados mais recentes divulgados no primeiro artigo do GPP no Observatório desta edição permitem verificar que as indústrias agroalimentares têm efetivamente uma forte inter-relação com o setor agrícola, por exemplo, através de uma grande integração vertical em alguns setores. Para além disso, há um peso significativo dos consumos intermédios em ambos os sentidos: a agricultura fornece 37% dos consumos intermédios das Indústrias Alimentares, das Bebidas e do Tabaco (IABT), e estas Indústrias fornecem 35% dos consumos intermédios da agricultura; 42% da produção nacional da agricultura é dirigida para as IABT. O setor agroindustrial é responsável por 6% das exportações nacionais de bens e serviços. Entre 2010 e 2022, as exportações do setor cresceram 7% ao ano, acima da economia, destacando-se o último triénio (17% ao ano entre 2020 e 2022, com o contributo da inflação). No mesmo período, as importações aumentaram 5% ao ano. As Grande Tendências abrem com um artigo de Jaime Piçarra em que o autor contextualiza o setor “em três tempos − passado, presente e futuro”. Começa por um breve historial das políticas agrícolas e agroindustriais a nível da União Europeia, desde os excedentes de produção às crescentes preocupações ecológicas, para perceber como chegámos aqui. Nos desafios e ameaças para o futuro, traça o quadro das contingências geopolíticas, bem como das próprias contradições internas das políticas europeias. Faz depois uma análise da situação do agroalimentar em Portugal, referindo que embora se tenha feito já um grande caminho, continuamos aquém das expectativas, mantendo problemas estruturais graves. Aborda ainda questões ligadas à alimentação humana e animal e à necessidade de fomentar a inovação. No artigo de Pedro Queiroz, da FIPA, fala-se da comprovada resiliência do setor num contexto adverso como aquele em que temos vivido e da necessidade de construir sistemas agroalimentares cada vez mais sustentáveis nas três vertentes ambiental, económica e social. O autor refere a questão central das embalagens, salientando a importância de haver mais investigação e inovação, tanto neste como noutros domínios, e a necessidade do investimento respetivo. Frisa o crescente papel do consumidor nas tendências de mercado, fazendo notar igualmente a relevância do fator preço. Questões como a transição tecnológica e o emprego são igualmente abordadas, e o artigo termina afirmando que “o futuro deve ser colaborativo”, mobilizando “agricultores, sociedade civil, decisores políticos e empresas de vários setores”.

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