cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR
N.º 8
JUNHO 2017
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mulados ao longo de gerações são o resultado da
interligação dos indivíduos com a biodiversidade e
os ecossistemas locais, bem como da satisfação de
necessidades básicas (e.g. alimentação, cuidados
primários de saúde) e sociais (e.g. rituais, valores,
ritmos e significados). Por exemplo, muitas espé-
cies silvestres (e também ancestrais de espécies
cultivadas) são ainda recursos alimentares e medi-
cinais com impacto no bem-estar de muitos povos.
A manipulação e consumo destas espécies em dife-
rentes regiões do mundo refletem a diversidade do
conhecimento local e acima de tudo a identidade
cultural inerente (Turner
el al
., 2011; Carvalho &
Barata, 2016), informação relevante em termos de
gestão e conservação dos recursos, mas também
de diversificação das dietas e de segurança alimen-
tar a nível global.
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International
O CIMO – Centro de Investigação de Montanha tem
uma já longa tradição de reconhecimento e inven-
tariação da diversidade biológica, concretamente
em plantas vasculares e macrofungos, em Portugal
Continental e Ilhas. Um grupo de investigadores de
etnobotânica trabalha na recolha e processamento
de informação relativa aos usos e costumes ligados
às plantas (cultivadas ou bravias) e cogumelos (e.g.
uso alimentar, medicinal e veterinário). Uma outra
equipa do CIMO analisa os aspetos nutricionais, quí-
micos, bioquímicos e microbiológicos das mesmas
plantas e macrofungos. Esta informação, por sua vez,
serve de base a projetos de inovação em processa-
mento alimentar e de desenvolvimento de novos
ingredientes e produtos para a indústria alimentar,
nomeadamente de substitutos de aditivos sintéti-
cos (e.g., conservantes, corantes, aromas), com inte-
resse alargado em muitos outros setores industriais.
Paralelamente, decorrem estudos agronómicos clás-
sicos; e.g. ensaios de fertilização, cultivares, densi-
dades e épocas de sementeira, e sistemas de con-
dução e poda.