Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

OS TEMPOS DA ADESÃO À COMUNIDADE EUROPEIA (1977-1986) // 92 // Depois daquela reviravolta de última hora com o Dr. Luís Saias, a minha tranquilidade foi, ou poderia ter sido, de muito pouca duração. Com efeito, tinha sido garantida a capacidade téc- nica do GP no respeitante ao diálogo (direito derivado e análise técnico-económica) com a DG VI, mas nada me dizia que não viria a caminho outra crise com o novo ministro. Foi, portanto, com alívio que assisti à cerimónia de posse desse novo Ministro da Agricultura: o professor de veterinária, Apolinário Vaz Portugal. Esclareço que eu já conhecia o Prof. Vaz Portugal: além de professor da Escola Superior de Medicina Veterinária, era diretor da Estação Zootécnica Nacional (EZN), instalada na Quinta da Fonte Boa, muito perto de Santarém. E aconteceu uma coisa, para mim inesperada: foi o próprio Ministro que me veio dizer “Varela, eu irei seguir o programa do Gabinete de Planea- mento.” Comecei então por colocar o Ministro ao corrente do nosso trabalho e acrescentei que, em mi- nha opinião, era necessário pôr estas bases no terreno, isto é, começar pelo diálogo aqui, antes de o encetarmos com a DG VI. Foi assim, dando o primado ao poder político, que começou aquilo que nós, a dada altura, de- signámos por: “Perspetivas para a política de desenvolvimento da agricultura”. 131 As “Perspetivas” não foram, porém, apenas um documento do Ministério. Resultaram de um debate público, que decorreu de 11 a 19 de junho desse ano (1979) no âmbito de um Colóquio na Feira Nacional de Agricultura, em Santarém. Pela primeira vez, vi os agricultores a debaterem e a opinarem sobre temas que lhes diziam res- peito 132 . Para elaborar este trabalho, o Serviço de Integração Europeia do GP tinha-se transferido para as excelentes instalações da EZN, que dispunha de um ótimo anfiteatro para o debate técnico. Clarificados os temas, eu, o Sevinate Pinto, que era o Diretor do Serviço de Integração Euro- peia, e o Sobral Dias, que era o chefe da Divisão de Integração Europeia, dávamos o acerto fi- nal. Posso dizer que, nesses dias, trabalhámos quase em contínuo – de dia na Feira, em boa parte da noite, na EZN. No encerramento da Feira, na Casa do Campino, ali existente, o Presidente da República, ge- neral Ramalho Eanes, assistiu à apresentação das “Perspetivas”, feita pelo Ministro da Agri- cultura, e, logo depois, à explicação e detalhes, feita pelo Diretor do GP. E foi assim que o diálogo com a DG VI começou: tanto em Bruxelas, como aqui, pelo nosso lado, com os pés assentes no chão. 131. Foi com este título que o Ministro da Agricultura editou o livro em julho de 1979, e o distribuiu. 132. Note-se que não houve sortilégio algum. No DCP já existia uma Divisão de Planeamento Regional (a par das do Global -Macroeconómico e Finanças) e Setorial (setores económicos e sociais). E, nas Regiões-Plano, já funcionavam as Comissões de Planeamento Regional.

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