Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 91 // 129. É que foi exatamente assim. O chefe de Gabinete era o Lopes Ribeiro, meu conhecido. Se não o fosse, era capaz de pensar que eu tinha metido uma “cunha”. 130. Há que distinguir duas capacidades: Os Ministérios tinham especialistas. Eles estavam nos Serviços e no Ministério do Comércio – As Juntas do vinho, do azeite, etc. Só que eles não conheciam, em profundidade, a PAC. Nós sim! E este enquadramento era dado pelo Planeamento de políticas setoriais. Eu tinha encetado o processo administrativo para regressar ao DCP, quando surgiu, com o 2.º GC, um novo ministro da Agricultura – Dr. Luís Saias. Acontece que eu tinha retardado o meu processo para regressar ao DCP, apenas porque nós tí- nhamos convidado uma equipa de licenciados do ISA, e de outras Escolas, para o Gabinete de Planeamento, sob promessa de entrarem para o Quadro. Resolvi por isso ficar, como subdire- tor, até garantir o ingresso daqueles meus colegas. Era, para mim, uma questão de palavra dada. Só que nada adiantei. E então pensei que, se o Ministro nomeasse alguém da sua con- fiança para dirigir o GP, eu poderia passar ao novo diretor essa incumbência. Assim, num daqueles dias, disse ao Ministro: “Peço-lhe que preencha o lugar de Diretor do Planeamento. Eu quero regressar ao DCP. E não estou disponível para dirigir o Gabinete em nome de um ‘Diretor sombra’…” Ora, para meu espanto, o Ministro, com o ar mais acomoda- tício possível, disse-me: “Vá já ter com o Chefe de Gabinete para o nomear Diretor-Geral do Planeamento do Ministério.” 129 . Em conclusão: o verdadeiro início de todo o trabalho sobre o Dossiê Agricultura, no plano técnico, começou ali e com uma rapidez notável!... Assim, ao manter uma equipa que já tinha experiência prévia, a capacidade negocial do Mi- nistério da Agricultura, mobilizável de imediato frente à DG VI, ficou garantida. 130 Infeliz- mente, o próprio Dr. Luís Saias iria deixar o cargo dentro de dois meses, mas o certo é que ne- nhum dos seus sucessores, no decorrer daqueles oito anos de negociação, deu mostras de decisões tão oportunas, e em tão pouco tempo. O que acabei de descrever não é um fait divers . É uma coisa muito séria. Naquela negociação, se a um pedido de esclarecimento sobre qualquer data, a resposta fosse: “Só podemos resolver daqui a um mês”, ou coisa equivalente, isso iria afetar a nossa credibilidade. Frequentes vezes, a instabilidade política reflete-se nos Serviços. Não custa perceber como tal processo parece ter-se transformado numa espécie de regra, que acontece quando um Minis- tro muda Direções, e até Repartições, com uma nova vaga de dirigentes e é uma forma de se- mear ineficácia. 3. A BASE TÉCNICA ALCANÇADA Posso dizer que alcançámos esta base quase sobre a linha da meta. Aquela corrida que tínha- mos iniciado com o PMP 1977/1980, para introduzir alguma racionalidade na nossa agricul- tura pós-PREC, e que nos parecia suscetível de seguir uma linha reta e sempre em frente, tor- nou-se uma linha quebrada, cheia de incertezas. Foi isto que procurei evidenciar até aqui.
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