Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

// 8 // engenheiro à antiga (como se costuma dizer), em que tanto a formação de base como a carreira foram moldadas a pisar os torrões e a calcorrear o país. As capacidades técnicas demonstradas e a vontade de querer fazer levam-no a destacar-se, orientando o seu percurso profissional para os trabalhos de estudo e planeamento no âmbito dos II e III Planos de Fomento. Outros desa- fios e desígnios se colocariam, no entanto. A grande marca da sua carreira foi sem dúvida o processo de negociação da integração europeia do setor agrícola português, que assegurou ga- lharda e brilhantemente como Diretor do Gabinete de Planeamento e na qualidade de repre- sentante do Ministério da Agricultura na Comissão para a Integração Europeia. Foi uma ta- refa titânica de coordenação e negociação que envolveu todo o Ministério, o setor empresarial e a sociedade civil, que todos os que acompanharam o processo reconhecem. Em 1986, acabada a etapa da integração europeia, mudam-se os tempos e as vontades e deixa o cargo de Diretor Geral; no entanto, não abandona a “militância” muito ativa no setor. Após a sua saída, e como Diretor de Serviços de Estudos e de Estatísticas Agrícolas, recusando qual- quer tipo de lugar honorífico 6 , “praticou a Europa” cuja entrada havia negociado, assegurando a representação portuguesa no Comité Especial de Agricultura 7 , no Comité AGRIFIN 8 e no Comité de Gestão da OCM das Matérias Gordas Vegetais e do Azeite 9 . A recusa em deixar o terreno do trabalho técnico ativo é, porventura, o traço de carácter mais evidente do Eng.º Va- rela, a sua afirmação de simplicidade, sobriedade e despojamento. Paralelamente, e por sua iniciativa, publica diversos livros 10 sobre a adesão de Portugal à União Europeia, que constituem a nossa principal memória do processo vivido nesse período. Apro- veito para divulgar uma faceta curiosa e talvez menos conhecida do nosso autor: para além das obras sobre política agrícola, fez também uma incursão na ficção, publicando o título “E o vento soprou de Leste – A Margem Esquerda e os dramas do Alentejo” 11 . Em 1994, atingido o limite de idade, aposenta-se da Administração Pública, continuando, no entanto, a sua atividade profissional com um empenho e uma vitalidade incomuns. Até 2014 exerce, na CONFAGRI e na FENACAM, funções de Conselheiro para os assuntos da PAC, assegurando a representação daquelas organizações nas reuniões do Comité Económico e Social UE e do COPA/COGECA. 6. Ou “de prateleira dourada”, como comumente se designa, concedido muitas vezes a personagens que desenvolveram trabalho relevante, ou por outros motivos, para terminarem a sua carreira confortavelmente no sossego dos deuses. 7. Equivalente ao Conselho de Representantes Permanentes da UE (COREPER) para a Agricultura, que prepara a nível técnico-político os Conselhos de Ministros de Agricultura da UE. 8. Grupo do Conselho que fazia o acompanhamento do Regime Agro-monetário da UE. 9. Grupo específico que funcionava ao nível da Comissão Europeia (DGAGRI)e que acompanhava o funcionamento da Organização Comum de Mercado do setor. 10. Publicações na editora D. Quixote: “A PAC e a Agricultura Portuguesa. Política de preços e mercados” (1987); “A PAC e a sua aplicação à Agricultura Portuguesa – Política de Estruturas e Reformas” (1988); “As Negociações com a C.E.E. e a agricultura portuguesa” (1991). Publicações editadas pelo Ministério da Agricultura: “A Agricultura Portuguesa – uma realidade em mudança” (Edição especial destinada a ser oferecida durante a Presidência Portuguesa do Conselho Europeu em 1992); “A Agricultura e o Espaço Rural (1993). “A Agricultura Portuguesa na plena Adesão” publicado no âmbito da realização das Jornadas de Reflexão organizadas pelos Deputados Europeus, Carvalho Cardoso e Lucas Pires (1988); “O Quadro Comunitário de Apoio para a Agricultura Portuguesa, 1989 - 1993 (IDARN, 1989). 11. Chiado Editora, 2012. PREFÁCIO

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw