Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

OS TEMPOS INCERTOS . 1926-1978 // 58 // Antes de prosseguir, há um esclarecimento a fazer. Não há desfasamento entre o período da Colonização Interna e os períodos dos referidos PFN. Na verdade, o I PFN começou a ser pre- parado cerca de três anos antes do seu início. E esta preparação contém a análise da década anterior, a década de 40. Logo, o tema desta análise incluiu também o que estava a acontecer com a política e os investimentos na agricultura. Assim, o Plano Geral do Aproveitamento dos Baldios Reservados foi aí tido em conta. O mesmo aconteceu com o II PFN. Analisou o pe- ríodo anterior e apreciou depois os resultados dos investimentos nele incluídos, para o período seguinte. Qualquer dos dois PFN foram propostos pelo governo à então Assembleia Nacional. Assim, na apresentação do I PFN à Assembleia Nacional, o Presidente do Conselho referiu: “Quanto à agricultura pode dizer-se que são tratados apenas o povoamento florestal, a irrigação por meio de gran- des albufeiras e a colonização (…); não se pode dizer que se esteja em face de um plano integral de fomento agrícola.” E mais adiante: “Nós lançámos a obra de Colonização Interna, nalgumas partes em terrenos de sequeiro, mas sem perspetivas de utilização de terrenos trazidos de novo ao regadio. As realizações, num caso e no outro, são ainda bastante restritas e a meu ver a preços muito elevados. Parece-me muito difícil dar incremento a esta obra aos preços e com a orientação actual.” 89 Não valerá a pena produzir mais excertos. Nos termos do II PFN, o próprio Presidente do Con- selho deu a explicação: “Sim! A Colonização Interna serviu para a preparação de colonos para África…” E temos de concordar que teve razão. A última colónia agrícola que a JCI instalou foi a Her- dade de Pegões (no Concelho de Vendas Novas). Doada ao Estado por um benemérito (Rovisco Pais), tinha uma área total de 4 000 hectares. Este era um caso diferente dos baldios das serranias de Portugal, já que os solos tinham, na sua maior parte, capacidade de uso agrícola (transição dos aluviões das lezírias do Tejo para as areias pliocénicas da bacia terciária do Tejo e do Sado) e estava perto dos principais centros de consumo (isto é, dos mercados): Setúbal, Montijo, Alcochete e até Lisboa. Nesta herdade, foi também instalada, um pouco mais tarde, uma vinha, constituindo-se uma Adega Cooperativa, que produz vinho de qualidade razoável. A cada colono foi atribuída uma parcela de terreno com a dimensão de 18 hectares e construiu- -se a casa de habitação, assim como as instalações agrícolas. Construiu-se também uma pe- quena barragem para que cada família pudesse produzir e vender produtos hortícolas e, pouco depois, laranjas. Erigiu-se ainda uma capela. Também foi criado um Centro de Assistência Técnica com alojamento (dormitório) para aí se poder dar formação agrícola. 89. Cf: O Plano de Fomento. Conferência proferida pelo Presidente do Conselho de Ministros. Ed. Secretariado Nacional de Informação. 1953

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