Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 47 // diando, embora pouco, a produção nacional de trigo. Executou, assim, uma política de “pão caro”, à qual os consumidores chamavam a “lei da fome”. Chegamos assim aos tempos da Campanha do Trigo, do Estado Novo, ao encontro do “pão político”. 2. OS FACTOS E AS CONSEQUÊNCIAS (1930…) Embora tenha sido apregoada como uma campanha para incentivar e desenvolver as produ- ções agrícolas, ela acabou por se centrar na produção de cereais. O Estado Corporativo reto- mou as políticas protecionistas que vinham de trás, melhorando, em larga escala, a sua imple- mentação no terreno. Para tanto, foi criado, como estímulo, o subsídio de arroteia (primeiro cultivo de terra desbravada), concedido aos proprietários, rendeiros e seareiros que rompessem os incultos, em terrenos pobres, derivados de xistos (charneca). As produções de trigo eram submetidas a manifesto obrigatório, ou seja, tinham de ser decla- radas pelos produtores nos celeiros da Federação Nacional dos Produtores de Trigo (FNPT). O preço garantido e as condições do cereal entregue (peso específico; estado sanitário, etc.) eram objeto, em cada ano agrícola, do “Regime cerealífero”, publicado em Diário do Go- verno. O transporte do cereal até aos celeiros estava a cargo do produtor. Assim, a FNPT construiu em cada concelho, e principalmente no Alentejo, as infraestruturas necessárias à recolha e conservação do cereal: celeiros (ou armazéns) e, depois, silos. No início da Campanha, na década de 30 do século passado, esta baseou-se numa intervenção técnica – recolha e seleção de sementes; demonstração sobre a aplicação de adubos; assistência técnica direta aos agricultores; parques de material agrícola, etc. Depois tudo isso foi simplifi- cado. A FNPT passou a publicar e a fornecer uma espécie de manual de instruções: um pe- queno livro que tinha o título de “Memorial do Produtor de Trigo”. Mais tarde, limitou-se a pagar aos produtores a semente selecionada, destinada à venda no iní- cio de cada ano agrícola. O procedimento era o seguinte: os produtores requeriam aos Servi- ços Agrícolas (Brigada Técnica, em cada distrito) a inspeção das suas searas e, conforme a ho- mogeneidade destas (grau de pureza, principalmente), esse trigo era destinado, ou não, a ser vendido como semente selecionada, no ano seguinte, sendo esta semente paga ao produtor a um preço superior. No início deste processo, o Instituto Superior de Agronomia (ISA) promoveu reuniões de escla- recimento sobre as melhores práticas culturais, preparação das terras para a sementeira, práti- cas de defesa sanitária, etc. Interessa destacar aqui, que logo numa dessas primeiras sessões no ISA, o professor Azevedo Gomes, advertiu para “o problema dos riscos da erosão dos solos; não sendo escutado em vir- tude da euforia reinante.”

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