Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 37 // Esta atuação conjunta e articulada, passando ao terreno, estendeu-se aos agricultores, aos mu- nicípios, às associações de natureza agrícola, etc. Este trabalho conjunto de coordenação começou, convém esclarecer, logo no início da Guerra, em 1914. Embora nesse ano não houvesse ainda um Ministério da Agricultura, existiam Ser- viços Agrícolas, nomeadamente a Direcção-Geral de Agricultura, que, como referido, tinha estado sob diversas tutelas, aí adquirindo diversas capacidades. Darei agora alguns exemplos do trabalho realizado a nível municipal, na fronteira entre a pro- dução agrícola e os consumidores citadinos. – A Câmara do Cartaxo utilizou 7 000 litros de milho, apreendidos a açambarcadores, mandando farinar uma parte e vendendo a outra ao público e a alguns moleiros. Ob- teve, ainda, trigo por intermédio da Comissão de Subsistência, que fez farinar no Con- celho de Lisboa e vendeu a comerciantes e padeiros. O Ministério forneceu-lhe açúcar, que a Câmara vendeu ao público. – A Câmara de Nazaré comprou açúcar que vendeu em pequenas quantidades ao pú- blico, ao preço de 42 centavos. Antes era vendido, por comerciantes, a 1$40. Com o auxílio dos Ministérios requisitou o excesso de milho, em poder dos produtores, ven- dendo-o ao público, a preços mais favoráveis. – A Câmara de Paços de Ferreira comprou aos produtores todo o centeio e milho dispo- níveis, que recolheu no celeiro municipal, vendendo-o depois ao público. – A Câmara de Avis, prevendo maior crise, resolveu adquirir na colheita seguinte todo o trigo necessário até à próxima colheita. 71 Como exemplos da cooperação a nível central, foram tomadas diversas medidas para minorar os efeitos da crise, de entre as quais destaco as seguintes: – O primeiro decreto, publicado em 3 de agosto de 1914, proibia a exportação de géneros alimentícios e de matérias-primas. E foi apenas o primeiro de uma longa série até 1918. – Em 18 do referido mês de agosto, outro decreto criava armazéns gerais industriais e bolsas de compra e venda. – Uma das grandes preocupações dos governantes eram a especulação e o açambarca- mento de géneros alimentares e outros bens de primeira necessidade. – A 10 de agosto de 1914 saiu o primeiro decreto sobre esta matéria. A 23 de novembro do mesmo ano proibiram-se os senhorios de elevarem as rendas das casas e, logo a se- guir, foram constituídas Comissões Distritais de Subsistências. (Estas foram, todavia, suprimidas em 30 de setembro de 1916 e substituídas pela Comissão Central.) 71. Fonte: A Grande Guerra. Folheto do Diário de Noticias – nos 85 anos da guerra.
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