Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 33 // A um século de distância, mesmo agora, depois de outras guerras, todas medonhas, os números da de 1914-1918 ainda impressionam. E bastará referi-los em valores aproximados: entre militares e a retaguarda próxima (a intendência logística) mais pessoal médico e paramédico, terão sido 70 e tal milhões de pessoas diretamente envolvidas. O número de mortos terá ascendido aos 9 milhões. Portugal mobilizou 100 000 militares, na frente Ocidental da Flandres, França, dos quais te- rão morrido cerca de 8 000. Não se sabe ao certo quais foram as perdas em combatentes “não brancos” em Moçambique e em Angola. Nos cemitérios em solo francês, como o de Verdun, contar-se-ão pelas cruzes com os nomes pelo menos 1 000. Todas brancas, todas bem alinhadas, como se os que aí foram enterrados es- tivessem fardados, com uniformes brilhantes, o metal amarelo limpo de fresco, como numa pa- rada militar, em dia festivo. E não se contabilizam aqui os que regressaram com vida, apenas para morrerem em casa. Eram, dizia-se naqueles tempos, os gaseados. E os muitos outros traumatizados psicologica- mente, mentalmente que foram morrendo pouco a pouco. A verdade é que, quando procuramos traduzir em números uma realidade que foi cruel, corre- -se um risco facilmente compreensível de esquecer as inúmeras tragédias que se escondem atrás de cada um desses números. O clima de guerra provocou, naturalmente, nos principais países europeus diretamente envol- vidos (França, Alemanha, Inglaterra), a convocação de militares, que tiveram de deixar os seus postos de trabalho. Começou, assim, a nossa vaga de emigração para esses países, agravada também por razões internas. – Em 1915, emigraram para Inglaterra e França 16 000 operários, em idade militar. – A população ativa, em 1914, representava 44% do total. Considerando também a sua distribuição: 80% nos campos e 20% nas cidades, poderemos concluir que a emigra- ção também terá atingido a agricultura. – A população portuguesa ascenderia a cerca de 6 milhões de pessoas, quando a guerra começou. 70 70. É uma aproximação: o último censo tinha sido em 1911 e o seguinte seria em 1920. CAPÍTULO IV 1914-1918, ANOS TERRÍVEIS
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