Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

OS TEMPOS DIFÍCEIS . 1910-1925 // 32 // Contudo, a parte exportável desta produção dizia principalmente respeito aos vinhos e à cortiça. Assim, o Portugal agrícola dos tempos da 1.ª República não era, em boa verdade, muito rico. Perante este quadro, a 1.ª República começou por exportar homens… Em consequência, aque- les três primeiros anos da República foram palco de duas realidades. Por um lado, a afirmação, um tanto conflituosa, do novo regime, num país até então essencialmente agrícola 68 que não gerava riqueza para cobrir os custos de uma instabilidade política quase permanente, que vi- nha desde meados do século XIX. Por outro lado, a incapacidade do novo regime essencial- mente republicano de sair de um círculo vicioso de natureza agrícola: não dispor de recursos para subsidiar uma triticultura (monocultura do trigo) que simultaneamente: não era competi- tiva no mercado externo; obrigava a elevar as taxas aduaneiras, provocando retaliações econó- micas de outros países relativamente às nossas exportações (por exemplo, vinhos; têxteis); que só remunerava, a nível dos agricultores, uma minoria de proprietários a sul do Tejo 69 e que, no final, não era suficiente para fazer uma política de pão barato. Este círculo vicioso, a partir de um cereal que era a base alimentar de grande parte da popu- lação, esteve sempre presente nos conflitos dos tempos de carência, como foi o caso da Grande Guerra e manteve-se durante o regime político do Estado Corporativo, só terminando com a nossa entrada na Comunidade Europeia, em 1986. Assim, foi a 1.ª Grande Guerra que motivou, e até forçou, a necessidade da criação do Minis- tério da Agricultura. E, este, sob o impulso da Guerra, concretamente da necessidade de refor- çar a retaguarda, estimulou em grande parte a colaboração entre Ministérios (como o do Co- mércio) e o alargamento desta atuação às Autarquias locais, com os objetivos seguintes: incentivar os agricultores e a produção mediante auxílios, embora com restrições devido à ca- rência de meios provocadas pela Guerra: cooperar no abastecimento em géneros alimentícios; articular o tabelamento dos preços e o racionamento que, já no final da guerra, se tornou ne- cessário, procurando reduzir o seu impacto. O Ministério da Agricultura ajudou pois, logo à nascença, a uma recomposição do poder re- gulador do Estado, numa economia de guerra. E aquilo que poderia parecer apenas um desfile de vários Ministros da Agricultura, em poucos dias, acabou por ter um desempenho honroso. 68. Ainda no quartil 1925-1950 do século XX, era assim que ainda era referida a economia, em Portugal. 69. No Alentejo, mas também no Algarve. Neste, e principalmente no Barlavento, os campos com amendoeiras, foram dizimados com a “parceria agrícola”: O proprietário ficava com as árvores; o “parceiro” produzia trigo subsidiado.

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