Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 25 // 1. NO 5 DE OUTUBRO DE 1910 – PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA. UM COMEÇO AUSPICIOSO Depois daqueles anos de lutas político-partidárias, de atentados sanguinolentos, de revoltas, de guerras, a cerimónia da Proclamação da República até tinha começado bem. Logo pela ma- nhã, da varanda do edifício dos Paços do Concelho de Lisboa, a bandeira verde-rubro tinha sido içada. Depois, a banda municipal retiniu os sons vibrantes do novo hino – A Portuguesa. Da varanda e do magote de individualidades com os seus colarinhos brancos, alguém conseguiu vencer a goela quase estrangulada e gritar: Viva a República! E todos bateram palmas. Logo a seguir, a caminho do Salão Nobre, e por proposta de Afonso Costa, constituiu-se um governo provisório, chefiado por Teófilo Braga. Quando este já se preparava para ler o dis- curso inaugural, houve um sobressalto! Mas qual a razão? É que a Carbonária, soube-se logo a seguir, estava descontente!... – Mas agora? E um comentário, imediato, de um daqueles senhores, mostrava a perplexidade de todos os circunstantes: – Um protesto da Carbonária?! Nestes tempos já da República?... – Qual o motivo? Mais uns minutos, umas idas e voltas, uns sussurros, e ficou-se a saber: a Carbonária protes- tava porque não lhe tinha sido atribuída nenhuma pasta governativa, naquele Governo Provi- sório acabado de constituir. Por fim, e perante as explicações dadas: Estamos em democracia! O Governo é provisório! Vai ha- ver eleições! E o povo decidirá! A Carbonária cedeu, enleada na sua própria “anarquia” popular. No fim dos discursos, e de um beberete, um dos circunstantes, voltando ao protesto da Carbo- nária, até sentenciou: Ainda bem! Mas deu, logo de seguida, uma explicação convincente: – Numa República democrática, e num Estado de Direito, todos têm o direito de opinar! Nós não perseguimos ninguém por ter opiniões contrárias às nossas. CAPÍTULO II A HERANÇA DE UM PASSADO RECENTE
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