Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
OS TEMPOS DIFÍCEIS . 1910-1925 // 24 // Ora o País, do lado do mar, e naqueles tempos de guerra, tinha os submarinos alemães. E, do lado da terra, tinha a Espanha. E esta, embora tendo optado pela neutralidade, não escondia uma certa simpatia pela Alemanha. Em face desta situação, a produção agrícola não chegava diretamente à mesa dos consumidores. Então, como é que, nesse tempo, os diversos Ministérios envolvidos no abastecimento (para lá do da Agricultura, o do Comércio, por exemplo) coordenaram, ou não, os respetivos desempenhos? Os principais desacertos referidos relatam principalmente acontecimentos ocorridos nas nossas principais cidades: Lisboa e Porto. Nestas, numa situação de penúria de quase tudo, os assaltos a mercearias, padarias, etc. foram numerosos. E o que se passava no restante território? Para o compreender, teremos de voltar àquela Grande Guerra que começara dez anos antes de eu ter nascido e cujos efeitos ainda se faziam sentir no ano em que nasci – 1924. Pesquisando em livros, revistas, artigos, etc. alguns dos principais acontecimentos relacionados com o Ministério da Agricultura e colhendo, paralelamente, alguns números, quer das estatís- ticas do INE, quer de muitos desses escritos, propus-me relacionar números com factos. Sobre- tudo os factos que, tanto a montante como a jusante, implicavam, ou limitavam, o funciona- mento de um Ministério que, não custa aceitar, teve um papel central no decorrer daqueles seus primeiros anos de vida (1918-1926). Cruzando e destacando números e acontecimentos, cresce a ideia de que a sucessão de Minis- tros que, nesses anos, passaram pelo Ministério da Agricultura não foram no geral, uma pro- cissão de cegos. Esta conclusão confortou-me. Os capítulos e os respetivos pontos que alinho a seguir, seguem esta ordem: 1. Em 1.º lugar, figuram os números e os esclarecimentos que, a meu ver, mostram a di- mensão, e alguns horrores, da Grande Guerra. 2. Em 2.º lugar, coloco os números e respetivos comentários que permitem avaliar o ce- nário da situação económica e agrícola deste período. 3. Em 3.º lugar, apresento alguns elementos que revelam uma efetiva coordenação a ní- veis essenciais: governo, administração central e municípios. Por fim: esteve em causa o papel regulador do Estado. E este foi bem-sucedido. Nem tudo foi a tal “balbúrdia sanguinolenta”! Esta é uma memória grata. Este material é depois cruzado ou comparado com certas atuações, como coordenações entre Ministérios, procurando imaginar, embora recorrendo à lógica, aquilo que aconteceu. Este gé- nero de recomposição daquilo que aconteceu resulta muito da pessoa que o tenta. Será, pois, supérfluo apresentar bibliografia 56 . 56. Apenas refiro um dos livros mais esclarecedores e interessantes que li: Nobre povo - Os anos da República. O autor é o Prof. Jaime Nogueira Pinto.
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