Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 139 // labelo acusatório. O que está em causa são apenas alguns “sistemas de produção” 173 . Mas, mesmo estes, necessi- tam de algumas clarificações: – É óbvio que o precioso cereal, que é o trigo não está em causa. Apenas está em causa um sistema errado de o produzir. – É este “sistema” que necessita de ser delimitado com rigor. É o seguinte: – O sistema de produção que se diz ser muito competitivo pela via do preço (de oferta ou de venda) baixo, não beneficia os agricultores (os que produzem) mas sim os distribui- dores que são os que vendem aos consumidores. – Acabemos, também, com os disfarces habituais, (mas sempre ou quase) silenciados. A verdadeira competição nos mercados mundiais é, sim, para ganhar clientes, vendendo a bai- xos preços. No caso da União Europeia é a concorrência com outros países, também grandes produtores de cereais – os norte-americanos, os ucranianos e os russos. Todos eles pretendem vender trigo aos países árabes do Golfo. Isto é, Arábia Saudita e aos vários Emiratos Árabes. Todos eles produzem petróleo fóssil e têm dinheiro. E, como são muçulmanos, não comem carne de porco, e em contrapartida são grandes consumidores de trigo. É este mercado que to- dos pretendem. Daí a tal competitividade a baixos preços. E o consequente modelo altamente competitivo da PAC. – E esta realidade, não tem a ver só com alguns produtores/agricultores europeus. Tem principalmente a ver com alguns E.M. mais fortes nesta “nossa” União Europeia. – E é por estas razões que as Ajudas Diretas devem ser objeto de alguma destrinça. An- tes do mais, esta destrinça servirá principalmente para ajudar aqueles agricultores que também produzem cereais e usam um sistema de produção que não recorre maciça- mente a pesticidas e que produzem alimentos sãos. E estes constituem a grande maio- ria dos cerealicultores da União Europeia. Estes praticam uma agricultura que não é altamente competitiva no mercado mundial e que, no plano interno, estão a ser cada vez mais preferidos pelas Cadeias de Distribuição dos pro- dutos agro-alimentares. Tomo o exemplo da França 174 . Neste E.M. empresas como a Danone, o Carrefour e muitas outras, estão a dar uma nítida preferência nas suas prateleiras a produ- ções vindas quer da agricultura biológica, quer de outros modos de produção da agricultura tradicional. 175 173. Por razões de espaço, exemplifico apenas com os cereais de outono/inverno. 174. Não tenho informação sobre a situação em Portugal e outros E. M. da U. E. 175. Como fonte de informação cito o jornal francês Le Monde. E é óbvio que não posso concretizar datas porque as referências são muitas e frequentes.
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