Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 13 // 2. UM TESTEMUNHO Um testemunho não está isento de lacunas e de insuficiências várias, tanto do próprio como da perspetiva através da qual vê e descreve as experiências por si vividas. Por outro lado, tudo quanto refiro desde a criação do Ministério da Agricultura (1918) até à minha entrada num or- ganismo da Secretaria de Estado da Agricultura (1951) está baseado em documentos, estatísti- cas e outras fontes, que assinalo em notas de pé de página. O que se passou posteriormente a 1951 baseia-se ainda nas recordações que conservei de memória de opiniões que tive e de con- versas com colegas mais experientes, depois da minha entrada no Ministério. Neste testemu- nho, e quanto aos acontecimentos que nele relato, eu ajuízo factos e não pessoas. E faço-o de boa-fé. 3. A MEMÓRIA Numa Memória, o principal não é justificar os factos, nem, muito menos, tomar partido por políticos e suas políticas, que estiveram na origem dos acontecimentos. Numa Memória, o essencial é recordar e constatar os acontecimentos ao longo dos tempos e no quadro, ou no cenário, de cada época. E ainda, tal como numa sucessão ao longo do tempo, relatar as cir- cunstâncias envolventes e a maneira como os problemas foram ultrapassados. Para ser mais claro, os acontecimentos, os factos, que a Memória regista em cada época, ou pe- ríodo de tempo, e a natureza dos problemas, nem sempre foram resolvidos de imediato e de modo pacífico. Precisaram de tempo e de lucidez. Ora, nestas duas condições, certas vezes os problemas foram resolvidos progressivamente, linearmente, como progride a razão de uma su- cessão (aritmética). Acontece que, muitas outras vezes, a razão é geométrica e envolve modos de resolver problemas súbitos e violentos. E até sem frutos… Mais concretamente, por vias di- tas revolucionárias, ou mesmo por guerras. Foi nestas circunstâncias, entre revoluções e guerras, que o Ministério da Agricultura “nas- ceu”, em março de 1918. Seria desejável que o seu nascimento tivesse sido tranquilo, em paz. Mas não foi assim. Na sucessão de acontecimentos que teve de enfrentar, a “razão” não foi li- near. Foi geométrica. Exponencial. O ter resistido e persistido, nessa vinda ao mundo, sem o incenso, a mirra e o ouro dos Reis Magos foi, e continua a ser, o seu mérito. Celebremos, pois, o 100.º Aniversário do nosso Ministério da Agricultura, em 9 de março de 2018.

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