Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
OS TEMPOS DA ADESÃO À COMUNIDADE EUROPEIA (1977-1986) // 118 // Estes exemplos pretendem explicar a razão pela qual o nosso País ia entrar como contribuinte líquido da Comunidade. No caso do concentrado de tomate, os italianos temiam a nossa concorrência no mercado bri- tânico. Ora o Conselho Europeu, embora mobilizado pelo Ministro italiano, só tinha apro- vado um montante de 110 000 toneladas de concentrado. Acontece que, naquele primeiro se- mestre de 1985, o Presidente do Conselho era um italiano, Giulio Andreotti. E foi graças a ele que nós conseguimos elevar o montante de 110 000 para 120 000 toneladas. O Presidente Giu- lio Andreotti, em vez de reunir o plenário utilizava o “ confessionel ”, isto é, recebia cada ministro do Conselho em particular e foi assim que obteve a concordância para o novo montante. Mesmo assim, nós numa daquelas noites de fins de maio, ainda não tínhamos obtido o neces- sário para neutralizar os efeitos negativos da PAC sobre a nossa Balança de Pagamentos. Isto porque, havendo uma ajuda comunitária à produção de azeite, no âmbito da OCM das Maté- rias Gordas Vegetais, nós queríamos obtê-la logo a partir do primeiro ano da adesão. No en- tanto, como os espanhóis produziam 400 e tal mil toneladas de azeite e a Comissão não queria conceder-lhes a ajuda logo no primeiro ano, também teve de a negar a Portugal: ajuda teria de ser fracionada (regime do standstill ). Nós que só produzíamos 60 000 toneladas, não consegui- mos “ganho de causa”. O impasse durou até quase ao fim dessa noite. Às tantas da madrugada, explicámos isto a um técnico enviado pelo Presidente da Comissão, Jacques Delors. Este compreendeu e deu-nos ra- zão. Porém, para não “desdizer” a Comissão, o “mecanismo” encontrado foi reduzir uma dada percentagem à contribuição anual de Portugal para os Recursos Próprios da Comunidade. O relógio daquela sala do 14.º andar do edifício Charlemagne, do Conselho Europeu, marcava 4h e 30 minutos. Houve, porém, um azar: o bar, no 15.º andar, ia fechar! Então, nós e os juristas da DG VI de- mos uns abraços e uns apertos de mão e fomos dormir. Já era tarde, mas tínhamos alcançado todos os nossos objetivos negociais.
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