Livro do Centenário do Ministério da Agricultura
A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 111 // 1. UM BALANÇO A MEIO PERCURSO (1983-1984) Naquele final de 1984, nós já podíamos fazer uma ideia, embora ainda aproximada, da nossa conta de ganhos e perdas na integração da agricultura portuguesa na PAC. Antes, porém, tí- nhamos já uma convicção, quase uma certeza, sobre o nosso problema de fundo. No nosso país, fechado o ciclo dos Descobrimentos e com o fim da guerra colonial, a Revolu- ção de Abril de 1974 ditara o futuro de Portugal – restava-nos a Europa Ocidental. E a via po- lítica para lá chegar era a nossa inclusão nas democracias deste Ocidente comunitário. E a negociação do dossiê agricultura não poderia, naturalmente, comprometer aquele objetivo nº 1. Teríamos de ser convincentes, de argumentar com realismo e não com dureza. Neste ponto, sempre que tinha sido necessário, nós (em tom de conversa…) referíamos que a Revolução dos “cravos” tinha sido feita precisamente assim, e não com tiros. O outro parâmetro da nossa convicção foi que, se não conseguíssemos entrar na PAC, a sorte da agricultura portuguesa, e até a do Ministério da Agricultura estariam, muito provavel- mente, comprometidas. Esta questão era muito séria – sem dinheiro, na situação em que está- vamos, a instabilidade política ainda existente aumentaria. E o Ministério da Agricultura, nessa situação, que razão haveria para o manter? Assim, a balança começava a inclinar-se para o nosso lado; e porquê? Tínhamos, logo no iní- cio, fundamentado a nossa argumentação 146 . A seguir, e embora reconhecendo as dificuldades derivadas das crises petrolíferas, argumentámos com a tese de que, sem um auxílio financeiro, a nossa agricultura entraria numa espiral descendente de pobreza, escudando-nos, para tal, nos trabalhos de um Prémio Nobel – o economista sueco, Gunnar Myrdal. O seu “poverty be- comes its own cause” neutralizou os comentários de alguns juristas muito puritanos da DG VI. Principalmente, quando começámos a analisar o “Acquis” da OCM dos cereais. 147 CAPÍTULO XIX A CONSTRUÇÃO DO PERÍODO DE TRANSIÇÃO 146. Nas “réflexions d’ensemble” da Comissão face aos pedidos de adesão da Grécia, de Portugal e da Espanha, aquela também salientara a necessidade de um período de tempo para uma harmonização gradual face ao “Acquis”. 147. Cf Economic growth and underdeveloped states , Gunar Myrdal
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