Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

OS TEMPOS DA ADESÃO À COMUNIDADE EUROPEIA (1977-1986) // 108 // presente o Sr. Krapps, o Diretor do FEOGA-Orientação. Posto isto, entrámos no primeiro ponto da Agenda: a harmonização das legislações sobre medicina veterinária, sementes, mate- rial de propagação vegetativa, e outros. A razão para a escolha deste primeiro ponto, aparentemente secundário, cedo se revelou. Re- ceavam que tivéssemos doenças endémicas nos animais e que, ao aderirmos, as pudéssemos propagar aos restantes Estados-Membros. Receavam, sobretudo, a propagação da peste suína africana que nós tínhamos tido em meados dos anos 50. Passei a palavra ao Professor de Veterinária, que começou por referir que esse surto de peste suína africana em Portugal, nos anos 50, viera através da Espanha e não da África próxima (Argélia, Marrocos, etc.) porque os muçulmanos não comem carne de porco, não tendo por isso suiniculturas. Logo, a hipótese mais provável era a de que tivesse vindo de suiniculturas de alguma parte da Europa. A seguir, esclareceu que o que aconteceu em Portugal não foi em sui- niculturas intensivas, com porcos da estirpe Large White e/ou Land Race. Ocorreu em porcos criados ao ar livre no montado. Concluiu dizendo: a peste suína africana que ocorreu em Por- tugal acabou, mas tenham cautela com as vossas culturas intensivas. Matou assim o problema pela raiz e não teve interlocutores. A outra parte da reunião foi entre juristas: harmonização de regulamentos sobre sementes e de- mais materiais de propagação genética. E a Dr.ª Regina Borges mostrou que tinha grande co- nhecimento sobre a nossa legislação, superando até os agrónomos que trabalhavam, por exem- plo, na Estação de Melhoramento de Plantas. Numa negociação como aquela não se pode ser modesto. Em Lisboa, eu tinha reunido, como referi, uma série das cartas de solos do SROA, onde tinha trabalhado. Estavam, já na escala que dá o formato do Mapa das Estradas, anualmente publicado pelo ACP. A coleção abrangia as Cartas Agrícola, Florestal e da Distribuição das principais culturas arbóreas, arbustivas (vi- nha) e arvenses (cereais e oleaginosas). Estas cartas datavam dos anos 50 e estavam, para algu- mas culturas, ultrapassadas. No entanto, isso era até uma vantagem: em face do conhecimento atual, eu podia mostrar as alterações ocorridas desde então. Fiz um rolo com as cartas e juntei-lhes uma caixa de “punaises”. As paredes da sala de reuniões eram de madeira. Quando saímos para o almoço, descolei do grupo; evitei o self-service na cave do edifício, e subi ao bar, onde almocei. Regressei à sala de reuniões. Preguei as cartas nos tabiques. E esperei. Estava resolvido a fazer uma antecipação. Conhecia o país todo e nisso, o meu conhecimento era superior ao deles. Era de esperar que alguém, provavelmente da Delegação da DG VI, manifestasse surpresa com a súbita mudança de cenário. Pois bem! Foi precisamente o Sr. Moulart que, em vez de co- meçar o seu inquérito sobre as nossas respostas aos 34 Questionários que nos tinham enviado, se manifestou. E eu aproveitei para me antecipar, dando os esclarecimentos devidos. No fim, o Sr. Moulart, não teve muito mais esclarecimentos a pedir e até agradeceu o meu método… car- tográfico. A primeira reunião terminou, assim, em clima de simpatia recíproca. Fomos sérios e ganhámos credibilidade e confiança.

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