CULTIVAR 9 - Gastronomia

A patrimonialização da Dieta Mediterrânica 73 tuindo mesmo uma clara vantagem comparativa do espaço mediterrânico, no entanto, entre nós pre- dominam as doenças crónicas com um forte deter- minante alimentar, como comprovado pelo último Relatório da Saúde (setembro, 2016) [8]. Afastámo-nos gradualmente do modelo alimentar característico da DM: atualmente ingere-se, aparen- temente, energia em demasia (acima das 3000 kcal/ pax/dia), quando o aconselhável anda pelas 2200- 2500 kcal. E os grupos de alimentos onde se regis- tam os maiores desvios são ‘carne, pescado e ovos’ e ‘gorduras’ com consumos por excesso e ‘hortíco- las e frutos’ e ‘leguminosas secas’, em que os des- vios registados são por defeito, relativamente aos valores recomendados [5,9]. Relativamente aos consumos destes grupos de ali- mentos, o Inquérito Alimentar (IAN-AF 2015-2016) evidencia alguns detalhes relevantes, como seja a prevalência de consumos excessivos de carnes ver- melhas (>100g/dia), emmais de 40%dos adolescen- tes e adultos. No caso das gorduras, são preocupan- tes os desvios no contributo percentual de gordura saturada, em crianças e adolescentes (constituindo mais de metade das gorduras consumidas). É ainda nestes grupos etários que se observa maior inade- quação no consumo de hortícolas e frutos (inferior às 5 porções diárias recomendadas, para cerca de 65% das crianças e adolescentes) e de leguminosas (com um consumo médio de 5-8 g/dia, quando os valores recomendados, na nova roda dos alimen- tos mediterrânica são de, pelo menos, 25 g/dia) [3]. O IAN-AF 2015-2016 [5] revela ainda elevadas pre- valências de consumos de sacarose e sal, superio- res às recomendações preconizadas na nova roda dos alimentos. A reversão desta situação deverá constituir um ver- dadeiro desígnio nacional. A recente inscrição da DM na lista representativa do PCIH da UNESCO poderá ajudar, ao proporcionar uma maior visibi- lidade. A estratégia futura, de preferência transme- diterrânica, poderá passar por diferentes domínios. Desde logo por ações de prevenção, mas também de implementação de formas de agricultura susten- tável na base de produções locais ou de proximi- dade, com reduzida pegada ecológica, e ações de sensibilização da indústria alimentar para questões como a redução dos teores de gordura, de açúcar e sal nos alimentos processados. Em face de tudo quanto ficou dito e à laia de ponto de situação, podemos afirmar que mau grado o afastamento gradual que se tem registado em rela- ção ao padrão alimentar mediterrânico, no caso português, a situação está longe de se poder con- siderar perdida. A comprová-lo o Inquérito Alimen- tar 2015/2016 mostra uma adesão à DM conside- rável (quase 7 em 10 portugueses consideram-na elevada ou moderada) e a toma de 3 refeições diá- rias, intercaladas em muitos casos com pequenos lanches, é altamente significativa. Obviamente que muito há ainda a fazer, por forma a alcançar mais amplas camadas da população, sobretudo aquela proporção atingida por autên- ticas pandemias de doenças não transmissíveis (DNT). A recente inscrição da DM na lista do PCIH da UNESCO constitui um instrumento de elevado potencial. Nesse sentido, os sete países do Medi- terrâneo que fazem parte desse reconhecimento (Portugal, Espanha, Itália, Croácia, Grécia, Chipre e Marrocos) têm em marcha a execução de um plano de salvaguarda da DM, carta de compromisso assu- mida aquando da aprovação da candidatura, com a qual se pretende proteger este património, não só para as nossas comunidades, mas também para a comunidade internacional global, na medida em que a DM representa para todos um exemplo de sustentabilidade, de qualidade de vida e de bem- -estar. A própria FAO, organização das Nações Uni- das para a Alimentação e a Agricultura, considera, no âmbito da Agenda 2030, como desafio maior que se coloca à humanidade e a exigir ação ime-

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