CULTIVAR 9 - Gastronomia

71 A patrimonialização da Dieta Mediterrânica VITOR BARROS Investigador do INIAV (aposentado) Coordenador do Grupo de Acompanhamento para a Salvaguarda e Promoção da DM A Dieta Mediterrânica (DM) foi inscrita a 4 de dezem- bro de 2013 na lista do Património Cultural Imate- rial da Humanidade (PCIH) da UNESCO. Portugal é um país mediterrânico pelo clima e pro- duções e pela sua cultura. Dieta tem origem no termo grego ‘ diaíta ’, que significa estilo de vida, um modelo cultural milenar, transmitido de gera- ção em geração, que integra formas particulares de relacionamento coletivo, consumo de recursos ali- mentares locais e sazonais, processos e técnicas de extração e produção, festividades, rituais simbóli- cos e expressões artísticas associadas. O pão e os cereais, o azeite e o vinho marcam as paisagens culturais mediterrânicas e integram os rituais das três religiões monoteístas nascidas nesta região. As cidades de cultura mediterrânica mani- festam uma vida social intensa nas praças e zonas portuárias, mercados e bairros. A DM não é apenas um regime alimentar, é também uma forma de ver, pensar e agir que influenciou o planeta. São culturas de partilha, de entreajuda e proximidade que caraterizam este modo de viver. Como padrão alimentar, promotor de saúde segundo a Organização Mundial de Saúde, foi iden- tificado pelo fisiólogo americano Ancel Keys (1904- 2004), que verificou no Estudo dos 7 países (Estados Unidos, Finlândia, Grécia, Itália, Japão, ex-Jugoslá- via e Países Baixos) a existência de menor incidên- cia de doenças cardiovasculares na região medi- terrânica em relação a outras regiões do mundo que foram comparadas [1,2]. A investigação subse- quente conduziu a importantes conclusões, nomea- damente a correlação entre este modelo alimentar e cultural e bons níveis qualitativos de saúde física e mental. O consumo de fruta e hortícolas frescos, o uso de azeite como gordura alimentar, a utilização de ervas aromáticas e frutos secos, o vinho consumido com moderação e a frugalidade no consumo de carne são alguns dos fatores explicativos dos bons níveis de saúde. Mas destes não podem ser secundariza- dos modos de convívio coletivo, escasso ‘stress’, ati- vidade física moderada, sociabilidades e conviviali- dades [3]. Talvez por persistirem estas tradições, por serem ainda aceites os produtos locais, com a sua varie- dade, sem esquecer o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Estado e suas instituições, Portu- gal ocupa uma posição de destaque, a nível mundial, em termos de segurança alimentar e nutricional.

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