CULTIVAR 9 - Gastronomia

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 9 SETEMBRO 2017 58 A ligação direta ao consumidor, ajudando a ultra- passar o desconhecimento em relação à produção agrícola que hoje existe nos meios urbanos, come- çou nas feiras agrícolas há cerca de dezasseis anos, mantendo-se simultaneamente a aposta na grande distribuição. A difusão da marca passa também por inúmeras ações de degustação, sobretudo nas cida- des de maior dimensão, mais longe da realidade rural, ações essas que são normalmente aproveita- das para divulgar também outras valias da região, como por exemplo o Cante Alentejano. São tam- bém incentivadas as visitas de campo por parte dos clientes, permitindo verificar in loco as condições em que os animais são criados. Há cinco anos, foi aberto o primeiro restaurante em Lisboa, existindo atualmente, em parceria com uma organização que tem a seu cargo a repre- sentação da Carnalentejana nos principais certa- mes, as seguintes casas: Vicente by Carnalentejana , Hamburgueria do Mercado de Campo de Ourique e Carnalentejana , na Praça de Touros do Campo Pequeno. O ingrediente-rei é, naturalmente, a carne de bovino alentejano, com manipulação mínima, mas são igualmente utilizados, e também vendidos diretamente ao público, todos os produ- tos dos sócios do Agrupamento: porco preto, bor- rego, azeite, vinho, e ainda queijos e outros produ- tos da região. 1. A Carnalentejana aposta mais na diferenciação e inovação ao nível do próprio produto (embora a matéria-prima seja predominantemente 100% carne alentejana) do que da oferta gastronó- mica, ainda que esta procure ser também ino- vadora. 2. Nestes 25 anos, tem-se verificado um aumento do nível de qualificação dos recursos humanos da grande distribuição que lhe permite estar muito mais atenta à qualidade e rastreabilidade dos produtos, refletindo também um interesse e preocupação crescentes por parte do consumi- dor no que se refere a modos de produção mais sustentáveis. Assim, os clientes “Não só estão dispostos a pagar pela qualidade dos produtos, como procuram essa qualidade. Quem vem, já sabe ao que vem.” E sabe que a aposta em pro- dutos de qualidade tem custos associados. 3. A ligação entre produção e restauração é mani- festa e está sempre a ser melhorada. Quanto à ligação à investigação, a tarefa de melhora- mento genético da raça está a cargo da Asso- ciação dos Criadores de Bovinos da Raça Alen- tejana. 4. As diferentes abordagens dos três restauran- tes, assim como da própria marca na distribui- ção, permitem chegar a públicos diferenciados, desde uma clientela mais selecionada, aos turis- tas e aos jovens, através, por exemplo, da Ham- burgueria, que assegura também presença nos festivais de música de verão. As conclusões A trilogia ingredientes, tradições e inovação/criativi- dade é fundamental, embora este último elemento possa revestir diversas formas: a inovação pode estar no conceito, no tipo de produtos oferecidos ou na criatividade propriamente dita de cada chef . Parece haver uma sensibilização cada vez maior para a necessidade de salvaguardar o património gastronómico nacional, sem comprometer a ino- vação, e um movimento talvez lento, mas seguro, tanto por parte dos chefs , como dos empresários e dos clientes para o que é local e sazonal. Em paralelo com as questões da sustentabilidade, nota-se também uma preocupação crescente por parte dos clientes/consumidores pelas questões relativas à qualidade dos produtos e à saúde. Assim, estão dispostos a pagar por essa qualidade e a arriscar provar produtos menos usuais, se o con- texto for atraente e os diversos fatores envolvidos (sabor, produtos, expetativas, ambiente, serviço, informação fornecida) confluírem numa oferta final em que essa qualidade é reconhecida.

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