CULTIVAR 9 - Gastronomia

45 A diferenciação no setor cerealífero aliada à panificação artesanal DIOGO AMORIM Gleba – Moagem e Padaria A agricultura de cereais em Portugal É bem certo que Portugal não é umpaís competitivo no que toca à produção de cereais panificáveis. O presidente do Clube Português dos Cereais de Qua- lidade, Fernando Carpinteiro Albino, aponta que 92% dos cereais que compõem o pão que consumi- mos são, na verdade, importados [1]. Portanto, seja este de Mafra, Alentejano ou de Rio Maior é, cer- tamente, produzido a partir de cereais provenien- tes de países estrangeiros. As origens mais frequen- tes são França, Alemanha e Polónia, mas também há muitos cereais vindos do outro lado do oceano de grandes potências cerealí- feras, como os Estados Uni- dos da América e o Canadá. Existem algumas razões que justificam esta enorme dependência externa. A principal, apontada pelo Eng.º Benvindo Maçãs, diretor do INIAV de Elvas, é que Portugal não consegue competir em quan- tidade. O Alentejo, por exemplo, que é ainda hoje a região onde mais trigo se produz, tem, regra geral, solos pobres com baixos teores de maté- ria orgânica e azoto. As primaveras são excessiva- mente quentes, o que coloca a planta sob stress numa fase ainda muito precoce, levando a um mau enchimento da espiga, acompanhado de baixos teores em proteína. A quantidade e qualidade das proteínas que compõem o trigo ditam a sua apti- dão para a panificação moderna, sendo que, em regime de sequeiro, há muitos anos em que estas não atingem os parâmetros da indústria. Tanto no Alentejo como em Trás-os-Montes, onde se culti- vava trigo de sequeiro com alguma dimensão, bem como centeio, houve um grande desinvestimento nos cereais, para se passar a apostar em olival, vinha e pecuária. Noutras regiões do país que teriam, even- tualmente, melhores con- dições para o cultivo de trigo, não há explorações com dimensão que justi- fique o seu cultivo ou opta-se por outros tipos de cultura, como o milho. Diferenciação no setor cerealífero Parece-me muito óbvio pela análise que tenho vindo a fazer, baseada nos testemunhos de agricul- tores e agrónomos de referência, que Portugal não tem condições para ser autossuficiente na produ- … Portugal não é um país competitivo no que toca à produção de cereais panificáveis. … seja o pão de Mafra, Alentejano ou de Rio Maior é, certamente, produzido a partir de cereais provenientes de países estrangeiros.

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