Cultivar_8_Digital

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 8 JUNHO 2017 50 gem é uma base que todos reconhecem e na qual todos se reveem. As mudanças na paisagem e o impacto na valorização social No entanto, as novas dinâmicas e as novas formas de ocupação do espaço rural são altamente dife- renciadoras. Nem todos os espaços rurais regis- tam da mesma forma a interligação entre produ- ção, consumo e proteção. A agricultura na Europa tem vindo a registar mudanças rápidas, e por vezes radicais, em diferentes direções e a diferentes rit- mos. Os fatores de mudança, tanto no sentido do produtivismo como do pós-produtivismo, combi- nam-se de formas diversas e a diferentes intensi- dades, em diferentes localidades. Estas alterações levam a uma crescente diferenciação da paisagem europeia, da qual podem ser caracterizadas quatro situações tipo: a) Por um lado, paisagens simplificadas resultantes da agricultura altamente especializada e de cada vez maior escala; por vezes mesmo, paisagens radicalmente alteradas por via da alteração pro- funda de todo o sistema de produção. No Sul da Europa, a extensão do regadio e das novas cul- turas a ele associadas, são disso o exemplo mais óbvio. b) No outro extremo, em regiões remotas e de con- dições para a produção mais limitantes, pai- sagens renaturalizadas mas também empo- brecidas ecológica e culturalmente, por via da extensificação ou mesmo do abandono da agri- cultura, e da sua substituição por matos e/ou plantações florestais monoespecíficas; c) Nas regiões de maior densidade populacional e pressão urbana ou turística, muitas vezes com condições muito favoráveis à produção agrícola, paisagens multifuncionais onde diversas ativi- dades se sobrepõem e onde a pressão não só para o uso agrícola diversificado e intensivo, mas também para outros usos e funções, é crescente. Estas são paisagens que podem suportar múlti- plos bens públicos e ser extremamente valoriza- das pela sociedade, por via da proximidade do público urbano, mas também são as paisagens com mais risco de se tornarem caóticas e de per- derem esse valor. Trata-se das regiões onde os potenciais conflitos entre agricultura e outros usos do rural são potencialmente maiores, e onde novos paradigmas de gestão do espaço e novas formas de interação entre urbano e rural têm urgentemente que ser equacionadas e pos- tas em prática. d) E, finalmente, as paisagens de sistemas agríco- las ou florestais, ou silvo-pastoris com uma tra- dição de adaptação às condições próprias da região, que se mantiveram com características únicas e específicas até hoje, e que combinam ainda de uma forma extremamente eficiente a componente produtiva com a satisfação da pro- cura societal. Na realida- de portuguesa, paisagens como a Vinha do Douro ou o Montado são disso exem- plo paradigmáticos. São, no entanto, paisagens que implicam uma gestão sempre cuidadosa de recursos escassos, ou seja, um conhecimento profundo desses recursos e do funcionamento do ecossistema e a manutenção de uma gestão integradora das diferentes componentes. Entre estes extremos, muitas combinações se encontram hoje na Europa. O que se torna uma evi- dência é que nem todas as paisagens resultantes da agricultura mantêm o mesmo valor social face às diversas procuras da sociedade. Mesmo quando estas procuras se manifestam, o valor atribuído a paisagens diferentes é também diferente. Duas fon- tes de informação são relevantes neste contexto (Primdahl e Swaffield, 2010): O que se torna uma evidência é que nem todas as paisagens resultantes da agricultura mantêm o mesmo valor social face às diversas procuras da sociedade.

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