Cultivar_7_O risco na atividade economica

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 7 MARÇO 2017 40 não funciona, enquanto as crises se vão acumu- lando. As ajudas diretas, 80% do orçamento da PAC, apoiam os rendimentos dos agricultores, mas não são um instrumento efetivo de gestão de risco. Será pois necessário que a PAC pós-2020 adapte os seus regulamentos para permitir um verdadeiro desenvolvimento dos seguros contra riscos climáti- cos e sanitários “seguráveis”, assim como dos fun- dos mútuos para os riscos “não seguráveis”. Será também necessário encontrar meios de financia- mento adequados, ou seja, passar de um orça- mento fixo para um orçamento flexível, a fim de responder a choques naturais que estão em perma- nente crescendo, bem como aos choques de mer- cado que lhes estão associados. A gestão do risco agrícola é fundamentalmente uma questão privada das empresas e, antes de mais, é preciso responsabilizar os agricultores. A disponi- bilidade de mercados de futuros e de contratos de seguros é extremamente útil, mas a gestão do risco é também uma questão de fileira que pode ser tra- tada através de contratos comerciais que atenuem alguma volatilidade dos mercados, quando não existam mercados de futuros. Finalmente, as polí- ticas públicas podem dar uma grande ajuda, atra- vés da promoção do desenvolvimento de mercados de risco e da criação de instrumentos para situa- ções extremas de mercado (preços de intervenção abaixo dos custos de produção, cofinanciamento de fundos mútuos de catástrofes e/ou resseguros públicos). Concluindo, é certo que a visão do risco como opor- tunidade permite melhores escolhas estratégicas para o desenvolvimento económico no contexto de um mercado competitivo, mas exige uma con- figuração adequada dos projetos de investimento por parte dos empresários. Trata-se, pois, de uma dimensão puramente privada de uma boa gestão do risco. A visão do risco como uma ameaça tam- bém diz respeito às empresas, já que o risco incon- trolado limita o investimento, logo a capacidade de desenvolvimento através da inovação ou da com- petitividade. Os investimentos também podem ser mal escolhidos pelos gestores sob efeito do risco e de restrições de curto prazo por parte dos investido- res. O tipo e o nível da produção são também forte- mente afetados pelo nível de risco. É por esta razão que os mercados de risco são essenciais à econo- mia e que a intervenção pública pode ser necessá- ria para promover a sua “completude”.

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