Cultivar_7_O risco na atividade economica

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 7 MARÇO 2017 34 vas, como acontece em projetos de investimento. A incerteza incidiria sobretudo no impacto das tec- nologias (por exemplo, Organismos Geneticamente Modificados, nanotecnologias) ou nas alterações climáticas. Sendo um velho tema de debate entre os economistas a pertinência da distinção, esta pode ter contudo um impacto prático no prémio de risco a pagar para transferir o risco para um ter- ceiro. Com probabilidades fiáveis de perdas men- suráveis, a avaliação do prémio é rápida e indis- cutível entre vendedor e comprador do risco. Com probabilidades subjetivas, logo mais pessoais, e níveis de perdas desconhecidos e potencialmente elevados, a avaliação do prémio é difícil e, por consequência, sujeita a aumento por parte do comprador do risco. Neste caso, a disposi- ção para pagar um prémio de seguro ou de um con- trato de titularização do risco não se ajusta à pro- posta do segurador ou do financiador e o mercado de risco falha. 1.2. O mercado de seguros e o mercado finan- ceiro Os seguros baseiam-se na lei dos grandes núme- ros, aplicando-se assim aos chamados riscos inde- pendentes: a probabilidade de ocorrência de um sinistro num segurado é independente da proba- bilidade de ocorrência do mesmo sinistro noutro segurado. O contrato de seguro per- mite a um agente econó- mico “vender” o seu risco a um segurador, contra o pagamento de um prémio comercial. Este inclui um prémio puro atuarial relacionado com a probabili- dade de ocorrência de acontecimentos adversos e com o valor das perdas induzidas. Se puderem dar- -se casos extremos de perdas com probabilidades muito baixas, o segurador pode limitar contratual- mente o valor da indemnização ou arranjar um res- segurador que assuma, mediante remuneração, a totalidade ou parte dessas perdas extremas. Uma taxa relativa a encargos é então aplicada ao prémio puro para cobrir todas as despesas do segurador (custos de produção, custos comerciais e ainda os custos de avaliação das perdas). Naturalmente, o mercado de seguros funciona se a disposição de um agente avesso ao risco para pagar um prémio de seguro corresponder ao valor comercial desse prémio. Há dois problemas clássi- cos que afetam o bom fun- cionamento do mercado de seguros: o risco moral (de desresponsabilização) e a seleção adversa. O risco moral é aproximadamente equivalente a uma fraude, ou seja, o segurado deixa de tomar medi- das de prevenção (por exemplo, contra acidentes, roubo ou perda de rendimento agrícola). O modelo tarifário do segurador deixa de funcionar, porque as indemnizações aumentam em relação a um valor da contribuição previamente fixado. A sele- ção adversa corresponde a uma perda de mutuali- zação: o prémio calculado corresponde a um risco médio; se os agentes económicos de “baixo risco” não se segurarem, apenas os de mais “alto risco” o farão, o que desequilibra o modelo tarifário. Em ambos os casos, o segurador aumenta os seus pré- mios, o que rapidamente conduz à quebra de con- trato. Existem, contudo, algumas “soluções” para restringir a extensão destes problemas, como a prática de franquias de bonifica- ções ou ainda de seguros indexados. Um terceiro problema que pode afetar o mercado de seguros é a incerteza. Como segurar riscos cli- máticos em tempos de alterações climáticas? Os modelos atuariais vêem-se em dificuldades. Como segurar o erro médico, quando as compensações Há dois problemas clássicos que afetam o bom funcionamento do mercado de seguros: o risco moral (de desresponsabilização) e a seleção adversa. Um terceiro problema que pode afetar o mercado de seguros é a incerteza. Como segurar riscos climáticos em tempos de alterações climáticas?

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